A tensão entre público e privado no telejornalismo brasileiro: a cobertura da pandemia de covid-19 no Jornal Nacional e Repórter Brasil
Público. Privado. Telejornalismo. Narrativa. Democracia Deliberativa.
Público e privado sempre foram âmbitos difíceis de delimitar, principalmente na história da mídia no Brasil. Em meio à constante confusão neste campo, o nosso esforço pretende contribuir para o estado da arte no debate dessa fronteira que esconde jogos de poder e más interpretações, circunstância que repercute na custosa tarefa de viabilizar a democratização deste setor tão relevante para a manutenção da cidadania. Percebendo esses desencontros, a inquietação que moveu a tese foi a de identificar como se estabelece o privado e o público no conteúdo jornalístico produzido pelas duas principais emissoras de televisão privada e pública brasileiras. Defendemos que a democracia passa diretamente pelo jornalismo (GANS, 2003; PARK, 2008), reconhecendo seu papel na mediação de discussões na sociedade e sua capacidade de influência central e estratégica na definição da interpretação que vai prevalecer sobre a realidade. Por isso, também é propósito evidenciar que, diante do debate de regulamentação da comunicação, é preciso necessariamente prever instruções no fazer jornalístico dos veículos de comunicação. Para tanto, nosso percurso buscou, inicialmente, discutir sobre as dimensões do que significa o público e o privado, com suas caracterizações históricas, além de uma reflexão sobre como a comunicação se estabeleceu entre grupos que perpetuam seu poder em diferentes áreas em nosso país. O esforço da pesquisa chega à metodologia da análise da narrativa jornalística
(MOTTA, 2008; 2013; 2017), com a inclusão dos critérios de diversidade de versões (HERMAN, 2016; GANS, 2003; PORTO, 2002), dos telejornais noturnos das duas principais emissoras privada e pública brasileiras: o Jornal Nacional (JN), da TV Globo, e o Repórter Brasil (RB), da TV Brasil, a fim de perceber os tensionamentos entre os dois setores de comunicação, bem como essa tensão espelhada no discurso jornalístico de cada emissora, a respeito da cobertura que fizeram sobre a pandemia de covid-19 no Brasil, tema atual e que envolve forte embate político. As análises permitiram perceber que o JN manteve uma postura de posicionamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e suas determinações durante a pandemia; e identificar que o RB permaneceu com um comportamento cuidadoso com governo em sua cobertura, como sintoma da confusão entre o setor público e estatal na TV Brasil. A partir dos achados, buscamos refletir com proposições para um jornalismo que atenda à Democracia, consolidando como pilares o entendimento do papel do jornalismo, a compreensão da importância dos elementos narrativos no texto jornalístico, a diversidade de versões, o aprofundamento temático, o posicionamento esclarecido e o distanciamento de influências patrimonialistas.