Bioprospecção de Metabólitos Secundários Bioativos em Folhas de Cenostigma microphyllum
Catingueira, Toxicidade, Inflamação, Dor, Diarréia, Flavona.
Cenostigma microphyllum, popularmente conhecida como “Catingueira rasteira”, é uma planta endêmica do Brasil e muito comumente encontrada no domínio fitogeográfico da Caatinga. Seu uso popular tem sido reportado para febre e problemas de estômago, além de impotência sexual e reumatismo, porém há poucos relatos científicos sobre a bioatividade e toxicicidade desta espécie. O objetivo do presente trabalho consistiu em extrair, isolar e caracterizar metabólitos secundários em folhas de C. microphyllum, visando identificar atividades biológicas de potencial interesse biotecnológico aplicado à saúde. Inicialmente, foram realizadas extrações de folhas de C. microphyllum em série eluotrópica (metanol, acetato de etila, clorofórmio e ciclohexano), seguidas de fracionamentos em coluna, caracterizações fitoquímicas e isolamento de compostos, a partir dos quais foram realizados testes in vivo ou in vitro, de acordo com a metodologia usada, avaliação da toxicidade em diferentes sistemas biológicos, atividade antioxidante, atividade antidiabética, atividade anti-inflamatória, antinociceptiva, antidiarréica e gastroprotetora. Os processos de extração, fracionamento e purificação resultou em extratos orgânicos, frações e composto isolado com significativas quantidades de compostos fitoquímicos bioativos. Por sua atividade antioxidante significante (DPPH, 84,83%; ABTS, 91,93%) e grande quantidade de compostos fenólicos (345,2 mgEGA/g) o extrato metanólico foi avaliado em sua toxicidade in vitro, não demonstrando significativos sinais de toxicidade sobre os vários sistemas biológicos testados (Lactuca sativa, Tenebrio molitor, Artemia salina e eritrócitos). O extrato acetato de etila apresentou maior conteúdo de flavonoides (157,08 mgEQ/g) e em testes preliminares antidiabéticos in vitro se mostrou o mais promissor, por apresentar bom potencial antioxidante promovendo o sequestro de radicais livres (DPPH, 81,65%), e por demonstrar ter atividade antidiabética, tanto in vitro aumentando em cerca de 60% a entrada de glicose na célula, quanto in vivo reduzindo significativamente a glicemia (47,48% em 2 h). O extrato clorofórmico mostrou ser o mais relevante para fracionamento a partir das atividades biológicas e perfil fitoquímico preliminarmente realizados. A oitava fração do extrato clorofórmico mostrou potencial antioxidante (TAC 74,06% e reduziu oxido nítrico em cerca de 66%), potencial anti-inflamatório pela redução significativa (p<0,05) do edema (82,64%), e também, atividade antinoceptiva agindo na fase inflamatória da dor (48,18% de inibição). Um composto, isolado por fracionamento do extrato clorofórmico e caracterizado por RMN, demonstrou ser uma flavona com potencial antidiarréico, a qual reduziu significativa a formação e trânsito intestinal das fezes, em comparação com óleo de rícino (p<0,05). Adicionalmente, essa flavona inibiu significativamente (p<0,05) a percentagem de dano a mucosa gástrica quando comparado com o grupo negativo. Os resultados demonstram que folhas de C. microphyllum são promissoras fontes de compostos naturais bioativos de baixa toxicidade, e com importante potencial de aplicação na indústria farmacêutica, podendo auxiliar no desenvolvimento de novos fármacos de origem natural, na prevenção e/ou como fonte alternativa terapêutica em casos de diarréia persistentes, em condições inflamatórias e, em doenças crônico-metabólicas como o diabetes mellitus.