Deslizamento; Estabilidade de taludes; caracterização geotécnica; Barreiras; Estruturas de contenção

Devido a fatores históricos, sociais e geográficos, há uma grande população, predominantemente de baixa renda, que reside em áreas de topografias elevadas na Região Metropolitana do Recife. No geral, essa população não possui condições adequadas para a construção de moradias nessa tipologia de terreno. Em consequência disso, e devido a incidentes passados, como os que resultaram em 130 óbitos em 2022, medidas constantes têm sido tomadas para aumentar a segurança dessas encostas contra movimentos de massa, visando prevenir novos prejuízos sociais e econômicos. Entre essas medidas, destacam-se a construção de estruturas de estabilização, como muros de arrimo, telas argamassadas e solo grampeado. Dada a importância dessas estruturas para a qualidade de vida dos moradores dessas áreas, este trabalho realizou um estudo das interferências mecânicas e hidráulicas das mencionadas estruturas na estabilidade de taludes, utilizando o Método dos Elementos Finitos, com o objetivo de avaliar a eficácia de cada estrutura na estabilização das encostas. Foram analisadas as condições seca, sob aplicação de chuva e sem consideração da sucção. Este trabalho também comparou o fator de segurança (FS), obtido por esse método, com o fator de redução de resistência (SRF), utilizado no Método dos Elementos Finitos. Para o estudo, foi selecionada uma encosta localizada na rua Brumal, no bairro do Passarinho, em Recife-PE. A modelagem da seção foi realizada com base na caracterização granulométrica, em furos de sondagem e em dados cartográficos do Projeto de Prevenção, Preparação e Mitigação de Desastres Decorrentes de Precipitações Intensas, conhecido como Projeto "Morro de Vontade". Os parâmetros de resistência, permeabilidade e curva característica solo-água foram obtidos a partir de ensaios realizados no âmbito do projeto os quais resultados estão descritos neste trabalho. Quando necessário, devido impossibilidade de coleta de amostras ou realização de ensaios específicos, foram utilizados dados da literatura e correlações disponíveis. Com base nos resultados obtidos, concluiu-se inicialmente que não é adequado equiparar o fator de segurança (FS), obtido pelo Método do Equilíbrio Limite (MEL), ao fator de redução de resistência (SRF), utilizado no Método dos Elementos Finitos (MEF), devido às diferenças nos resultados apresentados. Essas divergências decorrem, principalmente, dos distintos critérios utilizados paraavaliar a segurança da encosta, bem como da consideração da deformação no Método dos Elementos Finitos. Então, embora os FS e SRF tendam a 1 na ruptura, a diferença de seus resultados para valores maiores que 1 é esperada devido as definições de ambos os indicadores. Assim, recomenda-se, com base nos resultados, comparar a evolução do SRF para estudos com estruturas de estabilização na encosta com o SRF calculado para a encosta sem essas estruturas. Ao analisar o impacto das estruturas de estabilização, constatou-se que, na condição seca, nenhuma delas impactou significativamente o SRF crítico, em razão da ausência de uma superfície crítica de deslizamento bem definida e da alta sucção do solo. Nas análises realizadas sob aplicação de chuva e sem a consideração da sucção, verificou-se que a tela argamassada não contribui diretamente para a estabilidade mecânica do talude. No entanto, ela auxilia na manutenção da sucção ao impermeabilizar parcialmente a encosta, o que resulta em um aumento da resistência do solo. Apesar desse benefício, a tela argamassada não se mostrou uma solução definitiva para a contenção da encosta, uma vez que não alterou significativamente o SRF (Fator de Redução de Resistência) na condição de ausência de sucção em comparação à análise do talude sem esse elemento. Ainda assim, pode oferecer algum nível de estabilização em cenários específicos. O muro de arrimo, no contexto deste trabalho, não teve impacto significativo no SRF crítico, pois a superfície crítica de deslizamento estava localizada mais profundamente do que o nível de instalação da estrutura. A combinação de muro de arrimo e tela argamassada apresentou resultados semelhantes aos obtidos com cada estrutura isoladamente. Por outro lado, o solo grampeado mostrou-se a solução mais eficaz, aumentando a segurança da encosta tanto sob aplicação de chuva quanto na ausência de sucção. Isso se deve ao comportamento passivo dos grampos e à impermeabilização proporcionada pelo paramento em concreto projetado. A análise dos esforços nas estruturas de estabilização revelou uma tendência de aumento dos momentos fletores e deformações axiais na tela argamassada e no concreto projetado, bem como das tensões normais e de cisalhamento na base do muro de arrimo, à medida que o SRF aplicado aumentava. Esses fatores  podem ajudar na identificação de patologias, como trincas, rachaduras e deslocamento do muro de arrimo, auxiliando na detecção precoce de movimentos de massa ou na diminuição da segurança da encosta.