Bacia hidrográfica do Natuba; Agricultura familiar; Contaminação ambiental por agrotóxicos; Modelagem de água subterrânea; Modelmuse.

A utilização indiscriminada de agrotóxicos tem recebido atenção especial, tendo em vista a possibilidade de gerar impactos ambientais negativos, com consequente desequilíbrio das funções ecossistêmicas e salubridade da saúde humana, seja pelo contato direto no campo ou pelo consumo de alimentos e/ou água contaminados. Este cenário é agravado no Brasil pelo fato de ser o maior consumidor desse tipo de agroquímico no mundo. Sendo assim, este estudo teve como objetivo estimar o risco potencial de contaminação ambiental por agrotóxicos utilizados no município de Vitória de Santo Antão, avaliar a presença de contaminação de agrotóxicos, nas diversas matrizes ambientais da sub bacia do riacho do Natuba e propor modelo conceitual experimental para modelagem numérica do fluxo hídrico subterrâneo. Para estimar o risco potencial de contaminação dos compostos utilizados na região, foi utilizado o Environmental Risk Index (ERI) aplicado aos dados dos agrotóxicos comercializados no município de Vitória de Santo Antão no biênio 2022-2023. Realizou-se amostragem em água de chuva, aquífero, nascente de rio, rio Natuba, tanques de lavagem, hortaliças folhosas (alface, coentro e cebolinha), solo e sedimento de rio. A detecção foi realizada por meio de GC/MS, LC/MS, GC-FPD, GC/NPD e GC-EDC/ECD, a depender da matriz e analitos analisados. Foi proposto um modelo matemático conceitual no software Modelmuse, visando compreender o fluxo hídrico subterrâneo do aquífero local. Dentre os compostos ranqueados pelo método ERI como potenciais contaminantes, destacam-se atrazina por ter sido detectada em água e sedimento e pendimetalina em todas as matrizes em Natuba. As análises demonstraram contaminação das matrizes na região por 71 compostos distintos, com a identificação de sete compostos nas horticulturas, seis no solo, cinquenta e quatro no sedimento do rio, uma na nascente, seis em tanques de lavagem, três no rio Natuba e quinze nos poços de monitoramento. Observou-se ênfase para os sedimentos do rio pelo fato de ter apresentado detecção de grande variedade de substâncias, 70,37% proibidas há anos ou que até mesmo nunca foram aprovadas para utilização no país e, para as hortaliças, por causa da quantificação de compostos não aprovados para as culturas avaliadas, além de exceder o quociente de risco crônico para uma das amostras de alface. A maior detecção de compostos no aquífero no inverno é explicada pela maior pluviosidade e menor espessura da zona vadosa na área. Quanto ao modelo de fluxo do aquífero Natuba, este demonstrou estar adequado à realidade e coerente, pois encontrou-se ótimo valor para índice de eficiência de Nash-Sutcliffe: 0,99, ou seja, as cargas hidráulicas observadas estão próximas das simuladas. Simulações iniciais de transporte do contaminante atrazina sugerem que cerca de 4,09% do composto é descarregado no rio. O modelo calibrado constitui-se de ferramenta capaz de fornecer embasamento para gerenciamento na região. Por fim, é preciso que sejam focadas saídas plausíveis para o cenário de contaminação a exemplo da transição para um modelo de cultivo agroecológico, apoiado por ações efetivas dos órgãos pertinentes.