Da natureza moderna do saber patrimonial: o discurso do Iphan como fundamento de práticas científicas modernas
IPHAN; Ciência Moderna; Paisagem; Patrimônio Natural; Regimes de
Patrimonialização.
A presente pesquisa busca investigar os diferentes processos de purificação e tradução presentes
no discurso do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico - IPHAN, na relação que estabelecem
com as características de práticas de uma ciência moderna. Para tanto, os argumentos criados nos
diferentes regimes de patrimonialização do Instituto que se voltam à dimensão da Natureza, ou
seja, para as categorias do Patrimônio Natural e da Paisagem, serão vistos em diálogo com reflexões
do campo da antropologia e do campo da paisagem, a partir de chaves teóricas de autores como
Bruno Latour, Tim Ingold, Philippe Descola, Augustin Berque e Anne Cauquelin, buscando-se
entender o posicionamento da relação do sujeito/objeto patrimonial na criação do saber
patrimonial. Parte-se do pressuposto de que a Constituição da ciência moderna foi balizada por
uma estranha simetria entre sujeito/objeto, em que o objeto está sempre em figuração cênica,
apenas para ser visto pelo sujeito. Para comprovar a hipótese de que as práticas discursivas do
Iphan apresentam características de uma ciência moderna, serão coletados documentos primários
de instrumentos patrimoniais como os dossiês de Tombamento, Chancela da Paisagem Cultural e
Registro de bens culturais de natureza imaterial, assim como artigos da Revista do Patrimônio. A
hipótese central é a de que apenas o instrumento do registro mediado por meio do Livro de
Lugares, não apresente tal posicionamento simétrico, por permitir a criação de narrativa de outras
ontologias, como a animista dos grupos indígenas, sem, no entanto, tratar a Paisagem como um
patrimônio material associado, como acontece nos demais livros do instrumento. Enquanto as
categorias patrimoniais de Natureza e de Paisagem, em meio ao processo de hibridicização do
patrimônio cultural, mediado pelos instrumentos do tombamento e da chancela, passam por
processos de escalabilidade, que, no entanto, não mudam o posicionamento simétrico entre
sujeito/objeto.