A PRÁTICA DO TERRITÓRIO PARA ALÉM DAS NORMATIZAÇÕES: diálogos ontológicos na reinvenção das
Áreas Protegidas, na Comunidade do Bode, Recife-PE.
território. ontologia territorial. áreas protegidas. comunidades tradicionais.
Este trabalho propõe uma imersão nas dinâmicas territoriais da comunidade do Bode, localizada no bairro do Pina, Recife (Brasil), enfocando as tensões entre normatizações institucionais, como a criação de Áreas Protegidas (APs), e as práticas territoriais cotidianas de seus moradores. O estudo parte do pressuposto de que a ação política de criação das APs, em prol da conservação da natureza, em termos convencionais, é lastreada pelo dualismo epistemológico histórico, formalizando a marginalização e a supressão de práticas territoriais que são anteriores às delimitações espaciais do sítio. Assim, investigamos como o território do Bode transcende os ímpetos normatizantes do planejamento urbano, impostos por instrumentos como o Sistema Municipal de Unidades Protegidas. O território em questão configura-se como um espaço vivo, continuamente ressignificado pelas práticas cotidianas, pela memória coletiva e pelas disputas ontológicas. O manguezal, central para a reprodução social e a identidade da Comunidade, é parte essencial da territorialização dos ribeirinhos, cujo universo se situa no interlúdio entre o ser moderno e o ser tradicional/relacional. Fundamentada em autores como Rogério Haesbaert, Arturo Escobar, Marisol de la Cadena e Ailton Krenak, a presente tese propõe um mergulho na teia relacional, urdida pelos moradores da Comunidade, no seio do território, para compreender os múltiplos universos que convivem paralelamente, entre diálogos e conflitos, próprios a uma mesma ou a territorialidades distintas. Essa perspectiva crítica questiona os paradigmas hegemônicos de conservação, destacando a importância de reconhecer a existência pluriversal e as práticas tradicionais como elementos centrais na gestão e negociação territorial. Os dados preliminares sugerem que as práticas da Comunidade podem incluir tanto ações materiais quanto simbólicas, o que será aprofundado ao longo da análise.