Deslocamentos geram desdobramentos: intervenções artísticas urbanas como potencializadoras de subjetividades poéticas na cidade.
Caminhar; jogos; arte; cotidiano; espaço urbano.
Este trabalho parte de uma pesquisa teórico-prática de criação e realização de jogos que utilizam diversas técnicas das artes visuais, a serem experimentadas dentro do espaço público urbano. Chamaremos de jogos essas ações performativas que Allan Kaprow (2019) sugere como prática para artistas, tendo como base a epistemologia do jogo enquanto produção lúdica defendida por Johan Huizinga (2012). De modo mais amplo, a pesquisa propõe compreender como a arte e a cidade podem se influenciar reciprocamente através da composição de suas subjetividades, entendendo a cidade como um mecanismo que agencia o indivíduo, delimitando seu modo de vida a partir de determinismos espaciais e políticos inerentes à lógica urbana. Para isso, buscaremos problematizar de que maneira tem se estabelecido os modos de vida existentes no ambiente urbano, partiremos das experiências pessoais do autor desta pesquisa, em sua vivência enquanto artista, na última década, e tomando por base as concepções de sociedade do espetáculo de Guy Debord (2005) e da sociedade do cansaço de Byung-Chul Han (2017), assim como nos conceitos de coreopolítica e coreopolícia de André Lepecki (2011). Como objetivo desta pesquisa, buscaremos compor novas subjetividades por meio da produção artística, dando enfoque às intervenções urbanas pautadas no caminhar e na produção de ações que interajam com o espaço, realizando atividades de campo, envolvendo oficinas e práticas individuais, nos bairros do Alto Santa Terezinha (periferia da zona norte do Recife) e Boa Vista (tomado como centro comercial do Recife), a fim de fazer uma análise entre esses dois espaços em relação às propostas artísticas desenvolvidas. Para nos acompanhar na elaboração dessas atividades, utilizaremos das concepções de Paola Jacques Berestein (2003, 2012) e Francesco Careri (2013) sobre o caminhar como método de criação, analisando esse método a partir das discussões levantadas por Jacopo Crivelli Visconti (2012) em sua tese, a qual reúne diversas formas de intervenções artísticas em espaços públicos. Para embasar conceitualmente esse campo, teremos o pensamento sobre arte relacional, desenvolvido por Nicolas Bourriaud (2009). As categorias teórico-conceituais de contaminação de subjetividades e as experiências artísticas realizadas nesses dois bairros durante esta pesquisa serão discutidas a fim de analisarmos qual o impacto da ação artística dentro do espaço urbano e de que forma a arte e a cidade podem se transformar mutuamente a partir das suas subjetividades.