Identidades estilhaçadas: uma poética do desenraizamento em O voo da guará vermelha, Quarenta dias e Outros cantos, de Maria Valéria Rezende
Desenraizamento, exílio, Literatura Brasileira, Literatura Contemporânea, Maria Valeria Rezende
O presente projeto de pesquisa investiga à construção do desenraizamento – seja por meio da migração, seja por meio do exílio – nas produções literárias O voo da guará vermelha (2005), Quarenta dias (2014) e Outros Cantos (2016), de Maria Valéria Rezende, tendo como principais referências teóricas a obra Reflexões sobre o exílio e outros ensaios (2001), de Edward Said, O Enraizamento (2001), de Simone Weil, O homem desenraizado (1999), de Tzvetan Todorov e A identidade cultural na pós-modernidade (2005), de Stuart Hall. O romance O voo da guará vermelha é protagonizado por Irene e Rosálio, um casal periférico formado por uma idosa profissional sexual soropositivo e um pedreiro analfabeto, que residem em São Paulo, entretanto, ambos são oriundos de diferentes cidadezinhas no interior nordestino. Ambos os personagens, por motivos socioeconômicos, em determinado momento desenraizaram-se de suas cidades natais, migraram e se entrecruzaram no subúrbio da capital paulista. Em Quarenta dias, a protagonista Alice é uma recém-aposentada de classe média, que, por pressão social, é impelida a desenraizar-se do seu lar em João Pessoa, na Paraíba, e se mudar para Porto Alegre, no sul do país. A prosa ficcional Outros cantos apresenta como protagonista Maria, uma ativista durante a ditadura civil-militar brasileira, que, por motivos políticos, resolve deslocar-se do ambiente da megalópole para se autoexilar no sertão nordestino. Nos três romances além do núcleo de protagonistas encontrar-se em deslocamento entre cidades das regiões nordeste, sul e sudeste do país, no desenrolar dessas tramas surgem outras figuras que relatam suas experiências migratórias de ida para outros locais e de retorno ao lar em suas cidades natal. Isto posto, é notória a potência que a questão migratória tem dentro das narrativas selecionadas, o que se converte em uma chave de leitura importante para o projeto literário de Maria Valéria Rezende e justifica o recorte de pesquisa proposto.