MEMÓRIA E REPRESENTAÇÃO DAS MASCULINIDADES EM PÃO DE AÇÚCAR, DE AFONSO REIS CABRAL
Memória. Representação. Transgeneridade. Masculinidades. Afonso Reis Cabral.
A dissertação pretende analisar o romance Pão de Açúcar (2018), do escritor português Afonso Reis Cabral, obra que ficcionaliza um crime de ódio ocorrido na cidade do Porto no ano de 2006, tendo como enfoque a narração do delito a partir da ótica dos assassinos que o cometem. Naquela ocasião, Gisberta Salce Júnior, mulher transgênero brasileira, sem teto e soropositiva, foi assassinada por um grupo de adolescentes, sendo o crime, claro ato de violência transfóbica, classificado pela Justiça Portuguesa como uma mera morte por afogamento. Nesse sentido, dentro da perspectiva dos estudos de memória e dos estudos de gênero, objetiva-se realizar uma análise desta obra buscando compreender sua inserção como uma criação literária que ficcionaliza o crime a partir do ponto de vista masculino, além de entender como é construída a narrativa a partir de uma memória coletiva relativa às masculinidades que se encontra inserida na discussão de gênero proposta pelo presente estudo. Dessa forma, pretende-se realizar um estudo da representação da personagem trans, Gisberta Salce Júnior, e da construção das masculinidades a partir de uma análise dos adolescentes assassinos, evidenciando questões de gênero, marginalidade, transfobia e violência, ao abordar as representações dos personagens Rafael Tiago, Samuel, Fábio, Nélson, Leandro e Grilo. Para isso, a dissertação utilizará as considerações de Márcio Seligmann-Silva (2022), Walter Benjamin (1987), Aleida Assmann (2011) etc. acerca das questões relativas aos estudos da memória e representação, e Bourdieu (2002), Foucault (2013), Fausto-Sterling (2000), Connell (2016), Bento (2015, 2017), entre outros, sobre questões de gênero ligadas à masculinidade, transgeneridade, poder e marginalidade.