POETICAS DO ESTRANHAMENTO NA (COM)POSICAO TEATRAL: NA (DES)MONTAGEM DO CORPO, A (DES)ARTICULACAO DA HISTORIA
Discurso. Teatro. Corpo. Sujeito-Ator. Efeito de Estranhamento.
Ancorada nas bases teórico-metodológicas da Análise de Discurso Materialista de Michel Pêcheux (1988, 2010, 2015) e Eni Orlandi (1984, 1995, 2012, 2015), esta pesquisa se propõe a analisar os modos como as poéticas do estranhamento na (com)posição teatral produzem, pelo furo, a desarticulação no estabilizado dos sentidos. Invisto, para tal, em duas direções: compreender como a (des)montagem no corpo do sujeito-ator, em tensão com as demais materialidades significantes (LAGAZZI, 2009) em cena, faz funcionar o efeito de estranhamento (BRECHT, 1967, 1974, 1978, 1966 e 1970) e compreender como, na/pela fricção entre o estranho e o familiar (LACAN, 1962), o efeito de estranhamento afeta o sujeito-espectador. O material selecionado para análise trata-se do espetáculo teatral A Hora da Estrela ou o Canto de Macabéa, dirigido e adaptado por André Paes Leme a partir do romance de Clarice Lispector. Metodologicamente, me debruço sobre a peça assumindo o olhar (DIDIHUBERMAN, 1998) como um instrumento de ancoragem (LAGAZZI, 2017) capaz de recortar (ORLANDI, 1984) o material e de esboçar, no movimento de remissão da tessitura à tecedura (NECKEL, 2010), trajetos possíveis de análise para a formulação visual. Nos meus gestos analíticos, procurei fisgar os aspectos estruturais e as condições estruturantes que fazem irromper, na articulação contraditória entre o corpo e o seu entorno, o estranhamento como um efeito de furo pelo qual a intrincação material se esgarça à inscrição simbólica do equívoco acenando, assim, ao outro dos sentidos.