A LETRA E A VOZ DE ASCENSO FERREIRA: dimensões da escrita e da performance oral no modernismo regionalista pernambucano
Ascenso Ferreira. Poesia vocal. Memória. Regionalismo de 1926.
Este trabalho insere-se nos debates sobre literatura e os estudos de memória, tendo como tema central a performance oral na poética de Ascenso Ferreira [1895-1965]. Interessados na realização de uma análise dos três livros que compõem a obra do palmarense — Catimbó [1927], Cana caiana [1939] e Xenhenhém [1951] — , levamos em consideração, para tal, não somente a palavra em sua instância escrita, mas a realizada foneticamente. Isso porque a transmissão desses textos acontece tanto por meio da grafia da letra como da voz. Nessa direção, almejamos sublinhar o lugar singular que este poeta ocupa dentro do modernismo brasileiro pelo fato de integrar a dimensão escrita à vocalidade. Embora não seja mais possível assistir a essa performance do poeta, sua voz nos alcança devido à mediação eletrônica tecnológica moderna, que permitiu que as máquinas de gravar e de reproduzir restituíssem o som vocal, de modo a admitir uma repetição idêntica e indefinida da fala. Figurando nesse contexto, a poesia vocal ascensiana se perpetua no tempo graças ao disco gravado na voz do autor, o primeiro dessa modalidade surgido no país: o LP “64 poemas escolhidos e 3 historietas populares” [1958]. A pesquisa, por sua vez, leva em consideração na leitura tanto o caráter escrito do poema como o fator midiatizado da performance oral. Isso em mente, defendemos a ideia de que a poesia de Ascenso Ferreira insere a voz como forma literária no modernismo. Assim, um dos objetivos da tese é compreender a dimensão da vocalidade como forma de expressão e as marcas textuais de oralidade, considerando três níveis de análise: a forma escrita do poema, a organização formal e a performatividade da leitura midiatizada. Nesse sentido, o pensamento de teóricos como Zumthor (1997), Cascudo (1995) e Freyre (2005) nos ajuda a estabelecer essa relação entre a letra e a voz na obra.