O ALARGAMENTO DAS FRONTEIRAS: imbricamentos da ficção e da historiografia em Léxico familiar e A família Manzoni, de Natalia Ginzburg, e O leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa
Fronteiras; Narrativa ficcional; Narrativa historiográfica; Ginzburg; Lampedusa.
O objetivo dessa tese é investigar os limites fronteiriços entre a narrativa ficcional, narrativa historiográfica, memórias e literatura, a partir da eleição de três obras da literatura italiana, a saber: Léxico familiar (1963) e A família Manzoni (1983), ambas da autora Natalia Ginzburg, e O leopardo (1958), de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Nossa leitura e investigação (re)visita um passado histórico - de uma Itália esfacelada pelo Risorgimento, pelo Fascismo e Antifascismo e pela Segunda Guerra Mundial - não distante, mas que se confirma atual, mediante o alargamento dessas fronteiras. Nesse sentido, estamos propondo evidenciar, por meio de um estudo comparativo, aproximações, distanciamentos e intercâmbio entre as obras selecionadas, a fim de que possamos, ao final, concluir que há a presença de um terreno nebuloso e entrelaçado entre a ficção, a história e a realidade, que as memórias individuais, coletivas e familiares imprimem um testemunho de resistências, rupturas e de escritas de si (próximo à autobiografia) e escritas do outro. Ademais, patentearemos que, ao mesmo tempo, em que há o resgate dessas memórias e do passado, temos, por outro lado, a ficcionalização dessas mesmas memórias. Para tanto, o aporte teórico que nos guiará conta com os estudos de Armando Cassigoli (1976), Daniela Graf-Bartalesi (2005), Bataller (2011), Sánchez (2011), Trapani (2015) e João Fábio Bertonha (2017) dentre outros, no que diz respeito à introdução ao Fascismo e Antifascismo italianos; em Octávio Paz (1982), Jacques Le Goff (1990), Leonor Arfuch (2002), Márcio Seligmann-Silva (2003), Luiz Costa Lima (2006), Jeanne Marie Gagnebin (2009), Michel de Certeau (2011), María Victoria González (2019) e Jacques Rancière (2021) entre outros, em relação à história, à memória, à literatura e à ficção; e no que corresponde às memórias e ao passado as reflexões de Pierre Nora (1984), Beatriz Sarlo (2005), Paul Ricoeur (2007), Paolo Rossi (2010), Henri Bergson (2010), Joël Candau (2016) e Maurice Halbwachs (2017), entre outros. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, desenvolvendo um procedimento bibliográfico e comparativo em função da perspectiva de natureza teórica, ou seja, busca-se uma configuração que tente compreender os fenômenos de modo geral e não propriamente sua ocorrência em situações delimitadas. Concluímos, portanto, que o alargamento das fronteiras, dispostas entre as obras literárias estudadas, se apresenta de forma heterogênea, desenvolvendo um trabalho memorialístico e híbrido no que diz respeito às categorias teóricas selecionadas. Ginzburg e Lampedusa são dois (re)criadores da linguagem, que, juntos, têm construído narrativas literárias que extrapolam as dimensões do historiográfico e do ficcional.