SOB REGRAS E CONSTRANGIMENTOS:
AUTOPOÉTICA DE UM ROMANCE AUTORAL
Pesquisa-criação; Poética, Teorias da ficção, Romance, Autor-Criador, Autor-Criativo.
Este estudo problematiza a tradicional exclusão acadêmica das teorias propostas por escritores, seja através de obras artísticas (formas alternativas de experiência) ou propriamente ensaísticas. Aprofundando-se na produção analítica de críticos e teóricos, através das análises de escrita e leitura e das variáveis de interpretação, comumente inconscientes e ideológicas, é possível rastrear as mesmas potencialidades, modelagens, desvios e acréscimos da escrita já desenvolvida pelos ficcionistas na posição de leitores de outros textos, enquanto se deixam influenciar na sua própria escrita. Assim, o objetivo desta pesquisa é apresentar semelhanças e diferenças conceituais, ainda que com métodos e materiais diversos, que aproximam escritores e leitores que se ocupam da produção literária e ficcional. Para uma investigação mais precisa de tais fenômenos, o que requer eventualmente um aprofundamento nas intenções polêmicas de tais sujeitos, modeladas pelos textos nos diversos gêneros produzidos por e sobre eles, analisa-se a criação literária e sobre ela através de métodos que trazem à luz a dupla função de escritor e teórico de literatura no mesmo sujeito. Assim, tais relações resumem-se na apresentação dos métodos e teorias utilizadas para desenvolver uma obra experimental como objeto prático de estudo desta pesquisa, passagens e epitextos de um romance autoral, Motocolombó (2022), cuja descrição busca fazer assemelhar as restrições e regras de produção do ficcionista e do teórico de literatura, promovendo percepções específicas, igualmente válidas ou disjuntivas das mesmas obras e do ficcional. Para viabilizar tal estudo, aplica-se aqui as metodologias pós-qualitativas e performativas de natureza inter e transdisciplinar da “pesquisa-criação” (recherche-création) da linha francófona, com Houdart-Merot e PetitJean (2021), e Paquin (2020); da “autoetnografia” de Bochner e Ellis (2017), e Versiani (2005), além das “poéticas de autor”, com Lucífora (2020) e Fumaz (2017). Com a proposta de fazer culminar as teorias sobre o literário em um projeto prático de criação, deseja-se propor outras formas de interpretação, além de ampliar e validar o quadro dos sujeitos envolvidos com o ficcional, enfatizando sua vinculação incontornável com o compromisso ético e estético com a literatura.