A cidade pornotópica: corpos e espaços da prostituição em Fortaleza (1887-1940)
Prostituição; história da sexualidade; Fortaleza
Esta tese é um estudo histórico sobre as relações entre prostituição e (in)disciplinamento de corpos e espaços na configuração urbana da cidade de Fortaleza, capital do Ceará, entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Ao longo dessas décadas, emergiram discursos e práticas que fizeram do meretrício um
problema do ordenamento urbano, social e moral da cidade, que também passou a ser descrita, pensada e disputada do ponto de vista da moralidade sexual. Esse foi um período em que se tentava regular e controlar as existências e os comportamentos considerados inadequados e desviantes em relação às normas e a um modelo do que seria uma sociedade civilizada e moderna. Os indivíduos e os grupos marcados e estigmatizados com as imagens e os perfis desses "desvios" eram objetos das tentativas de repressão e segregação que estavam sendo organizadas e institucionalizadas. Foi nesse contexto em que a prostituta apareceu como uma das figuras dessa galeria de párias sociais e a prostituição passava a ser falada e definida como uma ameaça e um perigo aos "bons costumes" da capital cearense. Durante aqueles anos, a identificação, a presença, a circulação e a localização das meretrizes fortalezenses se tornaram um tema do debate público e das estratégias de controle social e de suas resistências. Censo populacional, reportagens e matérias jornalísticas, relatórios de governo e decretos policiais fizeram do meretrício um registro e uma referência do cotidiano urbano. A prostituição entrava nos "cálculos" do governo e das tentativas de controle populacional, tornando-se um mecanismo de divisões e hierarquias corporais e espaciais da cidade. É esse processo, que chamo de "cidade pornotópica", que analiso neste trabalho.