mulher, certezas fulcrais, Wittgenstein, gênero.
A mulher cumpria certas funções sociais que pareciam, até certo tempo, estabelecidas e determinadas. No entanto, nas últimas décadas, um importante movimento começou a desafiar as relações de poder. O Feminismo possibilitou que alterações substanciais de ordem sociocultural, política e econômica ocorressem. O sujeito mulher que antes ocupava um papel essencial de privação, submissão e serventia, passava a ocupar espaços públicos e políticos. Esse impacto na sociedade também pôde ser sentido epistemicamente. Isto porque, a epistemologia que antes pensava em um humano “sem rosto”, mas que cumpria os interesses do homem branco, hétero, cisgênero e europeu, agora precisava incluir novos sujeitos. É nessa perspectiva que a presente pesquisa se delineia. Pensar a mulher enquanto sujeito epistêmico, é refletir que ela não é apenas ser autômato, mas ser pensante. Com isso, como saída para uma compreensão epistêmica da mulher, apresento o conceito das certezas fulcrais. Trazidas por Wittgenstein (1969), elas são definidas como certezas responsáveis por formar nossa “imagem de mundo” (Wetlbild) e permitir a funcionalidade das coisas. Para mais, são conhecidas por serem certezas fixas e básicas, dificilmente colocadas em dúvida. Nesta saída, Wittgenstein difere certeza e conhecimento, colocando-as em categorias diferentes. Dessa forma, neste trabalho defendo que, em determinadas situações, a proposição “eu sou uma mulher” se comporta como uma certeza fulcral. Contudo, em outras, ela se coloca apenas como uma proposição epistêmica, ou seja, apenas conhecimento. Isto porque, a não essencialidade da mulher permite que essa proposição possa ser revisada. Com isso, além do exame sobre o sujeito mulher no contexto filosófico, histórico e sociocultural, também investigaremos o conceito das certezas fulcrais e suas possíveis características necessárias. Utilizaremos, para esse primeiro objetivo, pensadoras como Butler (2022), Wittig (2023), Lorde (2023) e Sattler (2020; 2023), enquanto para o segundo traremos pensadores como Wittgenstein (2023), Sharrock (2015; 2017), Coliva (2017) e Silva (2022; 2023).