O TRABALHO REPRODUTIVO NA OBRA DE IGNÁCIO RANGEL: O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SOB O OLHAR DA TEORIA DA REPRODUÇÃO SOCIAL
Economia do cuidado, trabalho reprodutivo, Ignácio Rangel, desenvolvimento.
Há mais de três décadas as feministas vêm falando sobre a importância do trabalho reprodutivo. Dentre elas, as que são tributárias da teoria da reprodução social (TRS) demonstram a totalidade da exploração capitalista, de modo a relacionar dialeticamente trabalho produtivo e reprodutivo em uma mesma unidade contraditória. Nos anos 1950 no Brasil, um outro intelectual também abordava a questão das mulheres e do trabalho reprodutivo em particular: Ignácio Rangel. Idealizador das principais instituições desenvolvimentistas nacionais (como Eletrobras e Petrobras), Rangel teve sua militância política e intelectual marcada por embates sobre quais caminhos poderiam levar à superação do subdesenvolvimento. Com opiniões que contrastavam com vários de seus contemporâneos (como Celso Furtado, Raul Prebisch e Caio Prado Jr), Rangel acreditava que o desenvolvimento só poderia vir com o processo de abertura do complexo rural, que seria induzido pela industrialização das cidades. De fato, este processo evidenciaria a relevância de uma parcela da força de trabalho invisibilizada pela maioria dos economistas: o trabalho de mulheres e crianças no que chamava de “economia natural”. Para ele, transferir este trabalho para a economia de mercado é justamente o ponto de partida do desenvolvimento econômico. Nesse sentido, este projeto visa analisar a importância do trabalho das mulheres para o processo de desenvolvimento econômico na obra de Ignácio Rangel. Assim, a partir de uma ampla revisão bibliográfica dos textos de Rangel e das principais autoras da TRS (como Tithy Bhattacharya e Cinzia Arruzza), mobilizo esta corrente teórica para interpretar algumas das relações que Rangel faz em sua obra entre trabalho remunerado no mercado e trabalho não remunerado realizado tanto no campo quanto nas cidades, bem como o peso que essa questão tem para sua concepção de desenvolvimento econômico.