RELAÇÕES ENTRE ARGUMENTAÇÃO E FLEXIBILIDADE COGNITIVA NO ENVELHECIMENTO TÍPICO: um estudo exploratório
Argumentação; cognição; envelhecimento; flexibilização cognitivoargumentativa; Modelo do Debate Crítico.
A senescência é um conjunto de processos naturais decorrentes do processo de maturidade do ser humano e difere da senilidade, compreendida como um conjunto de transformações patológicas do indivíduo. Este estudo teve como objetivo geral investigar o perfil argumentativo de pessoas idosas com declínios cognitivos típicos (senescentes) participantes da adaptação de um programa sistemático de intervenção focado em argumentação, com potencial para favorecer a promoção nesta população de flexibilidade cognitivo-argumentativa, compreendida como construto teórico observável empiricamente através de movimentos argumentativos, como antecipação e resposta a perspectivas múltiplas, contrárias e divergentes. A especificidade desta tese está: a) na adaptação para senescentes de um programa sistemático de intervenção focado em argumentação, e b) na análise discursiva do perfil argumentativo de senescentes, a partir de indicadores discursivos de processos relacionados à flexibilidade cognitivoargumentativa. Participaram 15 pessoas com idade entre 60 e 75 anos, com declínios cognitivos típicos, com escore maior ou igual a 20 pontos no Montreal Cognitive Assessment (MoCA), com autonomia e baixo escore no Inventário Beck de Depressão (BDI). Como método, adaptouse o Modelo do Debate Crítico em quatro ciclos, durante dez sessões, focando quatro tópicos: fake News, inserção da pessoa idosa na sociedade brasileira do século XXI, políticas públicas para a pessoa idosa e finitude. As transcrições das intervenções foram analisadas em duas etapas, através da unidade triádica argumentativa – argumento (ponto de vista e justificativa), contra-argumento e resposta – e com ancoramento em modalizadores discursivos, em busca de indicadores discursivos de flexibilidade cognitivo-argumentativa. Na microanálise – análises minuciosas e detalhadas, que servem como exemplo das análises realizadas no corpus – foram selecionados intencionalmente dois participantes que estiveram em todas as dez sessões. Na macroanálise, foram selecionados intencionalmente seis participantes que tiveram frequência superior a sete sessões, em busca de possíveis transformações na frequência dos indicadores discursivos durante a intervenção. Ao comparar o início e o fim da intervenção, as análises indicaram tendência ao aumento da densidade de movimentos flexibilizadores e à diminuição de movimentos conservadores. Estes resultados sugerem possíveis impactos do programa de intervenção na cognição dos participantes, especificamente quanto à reflexão, antecipação e consideração de perspectivas divergentes.