IMAGINANDO UM FUTURO PROFISSIONAL: o olhar de uma jovem com cegueira congênita
Futuro profissional; cegueira congênita; imaginação; trajetória de vida.
Em uma sociedade projetada para pessoas que enxergam, aquelas que têm deficiência visual, rotineiramente, vivenciam as barreiras do capacitismo e das precárias condições de acessibilidade nas diversas esferas sociais. No que tange ao exercício de uma profissão, é sabido que, na juventude, comumente inicia-se o processo de escolha por uma área a seguir. Nesta direção, delimitamos enquanto objetivo geral da presente tese investigar, à luz da integração entre os modelos da expansão da experiência e o Trajectory Equifinality Model – TEM, como uma jovem com cegueira congênita imagina seu futuro profissional. Utilizamos como método um estudo de caso, seguindo uma abordagem idiográfica e qualitativa. A participante recebeu o codinome de CCF, e na ocasião do estudo, tinha 20 anos de idade, havia concluído o ensino médio e vivenciava os dilemas em torno da construção de uma carreira profissional. Todo o processo de construção de dados se deu de forma remota, através das plataformas Google Meet e WhatsApp. Utilizamos cinco roteiros de entrevistas semiestruturadas, dois vídeos que contavam as histórias de pessoas com cegueira congênita que desempenham atividades profissionais, e os instrumentos “um recado para mim e um recado para você”, desenvolvidos nesta investigação com o intuito de gatilhar processos imaginativos. Os dados foram analisados a partir do entrecruzamento dos modelos teórico-metodológico-analítico TEM, desenvolvido por Sato e colaboradores, e o loop da expansão da experiência – aqui reconhecida como espiral imaginativa – desenvolvida por Zittoun e colaboradores. Os resultados apontaram que a jovem prospectou um futuro enquanto locutora de rádio e, quanto a isso, empreendeu as seguintes ações: iniciou um curso de locução e sonoplastia; visitou uma rádio comunitária e apresentou um quadro onde entrevistava pessoas cegas a fim de conhecer suas histórias. No seu curso de vida, também houveram situações que nomeamos de trajetórias interrompidas, pois alguns fatores socioculturais, tais como o capacitismo, dificuldades financeiras e as precárias condições de inclusão escolar e laboral, dificultaram e/ou impediram a realização de alguns de seus projetos. Entretanto, concluímos que, nas construções simbólicas realizadas pela participante, ela reconhece, em seu percurso, a existência de dificuldades, mas, sobretudo, de potencialidades. Enquanto autora de sua própria história, CCF continuamente se reinventa, reorienta seu curso de vida e prospecta caminhos de múltiplas possibilidades e oportunidades,
tanto no âmbito pessoal quanto profissional.