ESPIRITUALIDADE, PSICODÉLICOS E BEM-ESTAR: impacto da orientação religiosa no uso de substâncias psicoativas e estratégias de coping
Substâncias psicoativas; Orientação religiosa; Coping religioso/espiritual; Saúde mental; Bem-estar psicológico.
Os psicodélicos são substâncias psicoativas capazes de alterar significativamente os estados de consciência, afetando tanto processos cognitivos quanto sociais. A literatura tem explorado como essas substâncias influenciam diferentes aspectos da vida humana, incluindo suas implicações sociais e psicológicas, muitas vezes mediadas pelos efeitos cognitivos que provocam. Esta dissertação tem como objetivo investigar as interações entre a orientação religiosa e o uso de substâncias psicoativas, bem como o papel do coping religioso/espiritual na maneira como os indivíduos lidam com o estresse e enfrentam adversidades, impactando sua saúde física e mental. O estudo foi dividido em duas etapas. O primeiro estudo analisou a relação entre a orientação religiosa e o uso de substâncias psicoativas. Os resultados indicaram que as crenças religiosas desempenham um papel central na decisão de usar ou não essas substâncias. Grupos religiosos tradicionais, como católicos e evangélicos, tendem a evitar o uso, enquanto indivíduos sem religião ou com orientações menos convencionais apresentam maior permissividade em relação ao uso de psicoativos. O segundo estudo, baseado em um delineamento transversal, investigou como diferentes grupos religiosos utilizam estratégias de coping religioso/espiritual (CRE) para enfrentar situações de estresse. Os resultados mostraram que o coping religioso positivo, como o fortalecimento da relação com Deus e o apoio espiritual, é mais comum entre indivíduos com uma forte orientação religiosa, enquanto aqueles sem religião adotam estratégias mais seculares e individualizadas. Ademais, foi observado que práticas espirituais, como o uso ritualístico de psicoativos em religiões ayahuasqueiras, desempenham um papel relevante na gestão de estresse e na busca por bem-estar. Estes resultados mostram que as interações entre religião, espiritualidade e o uso de substâncias psicoativas são complexas e influenciadas por diversos fatores culturais e sociais. Ressalta-se a importância de entender como crenças religiosas e estratégias de coping podem moldar não só as decisões em relação ao uso de substâncias, mas também o bem-estar emocional e psicológico. Essa reflexão é crucial para o desenvolvimento de intervenções mais sensíveis e eficazes no campo da saúde mental e na promoção do equilíbrio espiritual em contextos multiculturais. Em conclusão, este trabalho revela uma conexão entre religião, espiritualidade e o comportamento humano em relação ao uso de substâncias psicoativas. As estratégias de coping religioso/espiritual não apenas influenciam as respostas individuais ao estresse, mas também moldam a maneira como as pessoas interpretam e utilizam substâncias psicoativas em diferentes contextos culturais. Essa relação destaca a relevância de incluir considerações sobre religiosidade e espiritualidade em abordagens de saúde pública, particularmente no Brasil, onde a diversidade religiosa é expressiva. Futuros estudos devem se aprofundar nas interações entre crenças religiosas, cultura e saúde mental, ampliando as possibilidades de intervenções holísticas e culturalmente adaptadas.