PADROES DE CONECTIVIDADE E DISPERSAO LARVAL DE LUTJANIDEOS NO ATLANTICO TROPICAL SUDOESTE
Lutjanidae; Dispersao larval; Atlântico Tropical; Conectividade
As populações de peixes marinhos costeiros frequentemente estruturam-se como metapopulações, conectadas pelo processo de dispersão larval, o que torna a conectividade um fator crucial para a conservação e o manejo sustentável. No Brasil, embora se reconheça a importância dessa conectividade, sua aplicação prática é limitada pela escassez de dados. A APA Costa dos Corais (ACC), no Nordeste brasileiro, tem se mostrado uma área fonte relevante, com alta biodiversidade e importância reprodutiva. Entre os peixes recifais de destaque está a família Lutjanidae, de valor ecológico e econômico, com ênfase no Lutjaus jocu (“Dentão”), espécie amplamente explorada e classificada como “quase ameaçada”, que realiza agregações reprodutivas sazonais. Os resultados, da abordagem de acoplamento entre modelagem hidrodinâmica utilizando o produto de reanálise oceânica (GLORYS12V1) e o modelo baseado em indivíduo (IMB – Ichthyop) entre o período de 2014 a 2024, demostram que os períodos de desova P1 (outubro a janeiro) e P2 (março a maio) são fortemente influenciados pela dinâmica oceânica regional, em especial a bifurcação da Corrente Sul Equatorial (sSEC) com intensa variabilidade do transporte meridional (norte e sul) nos níveis superficiais. Esses são regulados pela marcha sazonal da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Essa dinâmica impulsiona os contingenciamentos de desova, com fluxos de dispersão em P1 ocorrendo em ambos os sentidos (norte e sul) ao longo da costa e em P2 ocorrendo essencialmente na região costeira e para o norte. As taxas de sobrevivência apresentaram elevada pressão ambiental sobre os períodos. Em P1 essas taxas foram inferiores a 20% em 2017, 2019, 2021, 2022, 2023 e 2024. Já em P2 foram relativamente superiores a 35% em 2014, 2017, 2021, 2022 e 2024. Em relação aos padrões de conectividade, em P1 observou-se maior capacidade de retenção local, as taxas médias de conectividade das larvas sobreviventes para as Ecorregiões Nordeste (18,59%), Amazônia (0,95%) e Leste (0,38%). Em P2 foram mais redistribuídas, Nordeste (26,53%) e Amazônia (5,74%), não ocorrendo conectividade com a Ecorregião Leste nesse período. Essa dualidade dos fluxos de dispersão e dos padrões de conectividade, geram resiliência ao transformar a variabilidade oceânica em vantagem demográfica, garantindo persistência populacional.