APORTES CONTINENTAIS SUBTERRÂNEOS E SUA INFLUÊNCIA NOS PROCESSOS BIOGEOQUÍMICOS COSTEIROS NO NORDESTE BRASILEIRO
nutrientes inorgânicos dissolvidos, parâmetros do carbono, estado trófico, acidificação marinha, SGD
Os fluxos dos estuários subterrâneos contribuem com solutos para o oceano costeiro através dos processos de mistura e reatividade, e conseguem modular significativamente a quantidade de solutos descarregada pelas águas subterrâneas-SGD para a costa, podendo influenciar no teor de solutos de origem terrestre. Pelo tanto, para realizar estimativas do escoamento de solutos associados à SGD na costa pernambucana e prever assim impactos nos ecossistemas receptores, é preciso conhecer a capacidade reativa dos estuários subterrâneos usando os isótopos de Rádio e Radônio, eficientes traçadores naturais que apresentam comportamento químico previsível e são naturalmente abundantes em águas subterrâneas. O radônio (222Rn) faz parte da série de decaimento do Urânio (238U), e devido aos fatos de estar presente em quase todos os sedimentos e apresentar meia vida de milhões de anos, qualquer massa d’água que entre em contato com os sedimentos, por algumas horas, irá adquirir um sinal de radônio. Por este motivo, nosso objetivo foi avaliar a influência dos aportes de solutos via descarga de água subterrânea (SGD) em regiões costeiras do Nordeste do Brasil. A identificação da SGD foi realizada pela quantificação da atividade de radônio com auxílio do equipamento Rad7 e RadH2O, pertencente ao Laboratório de Oceanografia Química da UFPE. As áreas estudadas estão localizadas na Praia de Jaguaribe, Ilha de Itamaracá, no litoral norte; Praia de Maria Farinha, Paulista, região metropolitana do Recife, e Praia da Croa, Barra de Santo Antônio, inserida na área da APA Costa dos Corais Alagoas (CCAL). Foram realizadas 2 amostragens no período de estiagem e 2 no período chuvoso, durante a baixa-mar, na faixa de sedimento permanentemente saturado, a fim de seguir a dinâmica dos solutos alvos no estuário subterrâneo e explorar a reatividade do estuário subterrâneo. As amostras de água foram coletadas com piezômetros de 1, 1,5 e 2m de comprimento e uma bomba de água manual. Essas amostras foram armazenadas para análises de alcalinidade total-AT, pH, carbono inorgânico dissolvido-DIC, nutrientes inorgânicos, salinidade, temperatura, 222Rn e Rádio (226Ra). Além disso, amostras de sedimentos também foram coletadas, pesadas, armazenadas em garrafas herméticas de 250 mL e preenchidas com água livre de 222Rn para medições de atividades de equilíbrio secular de 222Rn sedimento-água. Também foram coletadas amostras de água superficial para determinação da clorofila-a e nutrientes, e de poços em residências próximas. Os resultados da ACP para a o período chuvoso explicaram 64% das variações entre os parâmetros, quando o radônio, DIC e AT se relacionaram inversamente com a salinidade e o pH, enquanto que no período de estiagem, a ACP explicou 64,1% da variação dos dados, com o nitrogênio inorgânico dissolvido-NID, radônio, pH e fosfato contrastando com o silicato e a salinidade. Os maiores valores de salinidade foram observados durante o período de estiagem para todos os locais, em contraste aos menores valores de radônio, indicando a presença de um estuário subterrâneo. As concentrações de NID foram maiores durante o período chuvoso na CCAL e Itamaracá, indicando a influência da precipitação, que pode aumentar a lixiviação para a água subterrânea. Na CCAL indicam também forte influência de aportes oriundos da atividade agrícola nesta região. Em Maria Farinha, os maiores valores de NID no período de estiagem, podem estar relacionados à contribuição do Rio Timbó, uso e ocupação do solo e a poluição hídrica, bem como ao turismo. Quanto ao silicato-Si, no período chuvoso, Itamaracá apresentou a maior concentração média, 156,17 µmol L-1, seguida pela CCAL com 150,03 µmol L-1. Em Maria Farinha a média foi de 48,18 µmol L-1. As maiores concentrações foram registradas no período chuvoso, possivelmente relacionadas com o aporte pluvial e processo de lixiviação dos sedimentos, disponibilizando o silicato dissolvido na água subterrânea. Para o período de estiagem, em Itamaracá há teores mais elevados que nos demais locais (média 32,16 µmol L-1), possivelmente pela presença de solos ricos em minerais silicatados. O estuário subterrâneo da CCAL apresentou a maior concentração de fosfato (média de 25,67 µmol L-1) durante o período de estiagem. Esses valores podem ser associados ao descarte de esgoto doméstico sem tratamento, que é rico em fósforo, bem como das atividades agrícolas na bacia hidrográfica. Os resultados indicam a importância destas contribuições, que apesar da escala menor, são importantes contribuições de solutos reativos, transportando nutrientes e sua alta alcalinidade e DIC devem contribuir com o sistema tampão do pH, amenizando os impactos da acidificação marinha. A qualidade da SGD indicou o impacto das atividades antrópicas na área do entorno, podendo ser um indicador das mudanças no uso do solo.