ESTAO OS METAIS OU ESGOTOS DOMESTICOS RELACIONADOS A TOXICIDADE DOS SEDIMENTOS EM AREAS RECIFAIS AO LONGO DO LITORAL PERNAMBUCANO?
alquibenzenos lineares; elementos-traço; hidrocarbonetos policíclicos aromáticos; Tisbe biminiensis; ecotoxicologia; recifes de coral.
Os ambientes costeiros em todo o mundo enfrentam crescentes pressões decorrentes da intensa ocupação humana e das diversas atividades antrópicas desenvolvidas nessas regiões. Esses ecossistemas possuem elevada relevância ecológica, sustentam uma biodiversidade expressiva e prestam serviços ecossistêmicos fundamentais à sobrevivência humana e ao desenvolvimento socioeconômico global. Dentre esses ambientes, destacam-se os ecossistemas recifais, que abrigam mais de 25% das espécies marinhas conhecidas e fornecem serviços ecossistêmicos com valor estimado superior a 9 trilhões de dólares. No entanto, esses sistemas são altamente suscetíveis aos impactos das pressões antrópicas e às alterações ambientais em escala global, o que compromete sua integridade ecológica e funcionalidade. O presente estudo teve como objetivo investigar se os elementos-traço, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) e os efluentes domésticos — quantificados pelos alquibenzenos lineares (LABs), considerados excelentes marcadores de esgoto — estão causando toxicidade nos sedimentos superficiais de áreas recifais ao longo do litoral pernambucano. Foram realizados ensaios ecotoxicológicos com náuplios do Copepoda Tisbe biminiensis Volkmann-Rocco 1973, com duração de 72h, sendo analisados os endpoints de sobrevivência e desenvolvimento para os sedimentos de oito áreas (Janga, Paiva, Suape, Muro Alto, Cupe, Serrambi, Carneiros e Mamucabas), em março e outubro de 2021. Os contaminantes e os efeitos observados foram integrados numa análise multivariada para um melhor entendimento dos processos e determinação de causa-efeito nos sedimentos da região. A composição e concentração dos elementos-traço foi determinada por espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES) e os compostos orgânicos HPAs e LABs por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (GC-MS). As concentrações de todos os analitos foram baixas, com os HPAs variando de 0,23 a 10,1 ng g-1, com exceção do P1 (143 ng g-1), os LABs de 0,82 a 22,6 ng g-1 e, dentre os elementos-traço, apenas o arsênio (As) apresentou concentrações acima de limiares de efeitos. Os resultados sugerem que o As esteja relacionado à fontes naturais. Foram evidenciadas contaminação crônica por esgotos domésticos e HPAs, principalmente de origem pirolítica, nos ecossistemas recifais estudados. Os efeitos observados em março foram baixos (subletal e letal ≤15%) e não correlacionaram com quaisquer contaminantes investigados. Os resultados evidenciaram maior toxicidade subletal em outubro, principalmente nos pontos sob influência de intensa atividade antrópica (Suape), sugerindo efeitos sazonais na biodisponibilidade dos contaminantes. A integração dos parâmetros investigados indicou correlações entre os HPAs e os efeitos ecotoxicológicos no período seco (outubro), além de associações com LABs e elementos-traço como Pb, Al e K. Os resultados reforçam a importância de abordagens integradas que considerem a biodisponibilidade e os efeitos biológicos, e não apenas as concentrações totais dos contaminantes, para uma avaliação mais realista da qualidade ambiental em ecossistemas recifais.