Testagem e validação de esferoides dermo-epidérmicos imunocompetentes para estudos na leishmaniose cutânea
: Leishmaniose tegumentar; Cultura 3D; Esferoides; Testagem de compostos; Piridinas tiazois
A leishmaniose cutânea (LC) é um problema de saúde pública significativo, especialmente em Pernambuco, onde casos são registrados em todo o Estado. A doença se manifesta por lesões cutâneas, geralmente nódulos crostosos ulcerativos, após a infecção pelo parasito. Atualmente, os tratamentos são tóxicos e apresentam uma série de efeitos adversos, além de não haver vacina para a prevenção. A cultura 2D vem sendo amplamente utilizada em busca de responder essa lacuna de tratamentos, mas muitas vezes ela não reflete a resposta in vivo, o que dificulta a translação dos resultados. Modelos 3D, como os esferoides, oferecem uma representação mais fiel da geometria e interação da matriz extracelular, além de serem mais fáceis de reproduzir e terem custo e tempo de cultivo reduzidos. Embora esferoides sejam amplamente usados na descoberta de fármacos, ainda não foram desenvolvidos modelos imunocompetentes aplicados em estudos da LC. Sendo assim, o objetivo deste estudo é testar e validar um modelo de esferoide derme-epidérmico imunocompetente para pesquisas sobre LC. Testes in vitro foram realizados com compostos de uma nova classe de piridinas tiazois, para investigar a atividade leishmanicida sobre diferentes formas evolutivas promastigotas e amastigotas da Leishmania amazonensis. Nos testes com as formas promastigotas, o composto 3a se destacou apresentando um melhor valor de IC50 (1,78 μM) e uma maior seletividade para os parasitas do que para a cultura de macrófagos J774 (23,14) e para a co-cultura dessas células com fibroblastos L929 (21,71) quando comparados com a droga de referência Anfotericina B (AmB) e os outros compostos testados. Tanto o composto 3a quanto a AmB, se mostraram capazes de diminuir o potencial de membrana mitocondrial e de causar morte celular, principalmente por apoptose recente, nas formas promastigotas do parasita. Ademais, a construção dos esferoides dérmicos imunocompetente murinos foi bem-sucedida e foi observada a manutenção da integridade, morfologia e compactação ao longo dos experimentos. A infecção desses esferoides com a L. amazonensis também foi eficiente, sendo observada uma leve degradação dos esferoides a partir das 72 horas de formação. Nos esferoides infectados, o composto 3a se destacou, diminuindo significativamente a carga parasitária. Quanto a produção de citocinas pelos esferoides, observou-se que tanto o composto 3a quanto a AmB induziram citocinas relacionadas ao perfil Th1 (TNF e IL-6) que desempenham papel importante para resolução da doença. De maneira geral, os esferoides dérmicos imunocompetentes se demonstraram uma ferramenta promissora em estudos de novas drogas para o tratamento da leishmaniose cutânea.