Sistemas nanoestruturados poliméricos carregados com clofazimina como alternativa oral para tratamento da hanseníase
Clofazimina, PLGA, PCL, dinâmica molecular, hanseníase
A hanseníase é uma doença negligenciada com tratamento longo e fármacos com restrições biofarmacêuticas que limitam a ação farmacológica e a adesão dos pacientes. A poliquimioterapia (PQT) é formada por rifampicina, clofazimina e dapsona. A clofazimina, medicamento chave para farmacoterapia, é caracterizada por sua baixa hidrofobicidade e alta lipofilicidade apresentando como reação adversa a pigmentação da pele para marrom-avermelhada, causando desconforto nos usuários e abandono da terapia. Nesse cenário, as nanopartículas oferecem diferentes opções poliméricas para contornar esses desafios. Assim, este trabalho visa desenvolver sistemas nanoestruturados de poli(láctico co-glicólico) (PLGA) e de poli-ε-caprolactona (PCL) carregados com clofazimina (respectivamente, NP PLGA-CFZ e NP-PCL-CFZ) para proporcionar novas alternativas em polímero para encapsulamento da clofazimina. A dinâmica molecular (DM) foi utilizada como ferramenta para compreender a interação de cada polímero com a clofazimina por meio de parâmetros de estabilidade estrutural, compactação conformacional, organização intermolecular e energia de interação. Empregou-se a nanoprecipitação como método para obtenção dos sistemas nanoestruturados. Otimizações na concentração de cada nanocarreador possibilitou a escolha da formulação com melhor diâmetro médio, índice de polidispersão (PDI), potencial zeta (PZ), eficiência de encapsulação (EE) e carregamento de droga (DL). Em seguida, foi analisada estabilidade coloidal e em condições gastrointestinais (TGI) simuladas. Realizou-se a caracterização por Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR), Difração de raios-X (DRX) e morfológica por Microscopia de Força Atômica (MFA) Estudos de liofilização utilizando sacarose e trealose nas concentrações 2,5%, 5% e 10% foram realizados para análise de viabilidade tecnológica analisando os crioprotetores capazes de manter as características físico-químicas das nanopartículas. Os resultados de DM por meio da Raiz quadrada do desvio médio quadrático (RMSD), Raio de Giro (Rg), função de distribuição radial (RDF) e energia de interação fármaco e polímero determinaram que ambos os sistemas são estabilizados por interações de Van der Waals em que PCL apresenta maior compactação da matriz e melhor posicionamento da clofazimina no nanossistema, enquanto o PLGA possui um nanossistema mais expandido e com maior mobilidade para o fármaco. A otimização da concentração polimérica resultou nos resultados: NP-PLGA-CFZ com tamanho de 164,9±1,29; PDI=0,114±0,016; PZ = -20,8±0,321; EE =71,08 ± 2,55%; DL = 6,23 ± 0,001, e NP-PCL CFZ de tamanho 282,8±8,96; PDI = 0,256±0,02, PZ=-13,9±1,44, EE=91,84 ± 0,47%, DL= 7,37±0,004. Os nanossistemas mantiveram estabilidade coloidal por 90 dias com manutenção de diâmetro médio, PDI e PZ. Em condições simuladas do TGI ambas as formulações foram estáveis com destaque para PCL. FTIR e DRX confirmaram a incorporação da clofazimina na matriz polimérica. O MFA confirmou os dados de DM com maior organização estrutural de NP-PCL-CFZ e heterogeneidade topográfica de NP PLGA-CFZ. Os ensaios de liofilização demonstraram viabilidade tecnológica de ambos os sistemas em que a sacarose apresentou maior conservação das características físico-químicas de NP-PCL-CFZ e trealose de NP-PLGA-CFZ. As nanopartículas carregadas com clofazimina foram obtidas com estabilidade coloidal, gastrointestinal e viabilidade tecnológica, evidenciando o PCL como potencial nanocarreador para clofazimina.