CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA E ESTUDOS DE COMPATIBILIDADE DA DAPSONA E CLOFAZIMINA
Hanseníase; Pré-formulação; Caracterização; Análise térmica
A hanseníase é uma doença infecciosa e negligenciada, geralmente associada às condições desfavoráveis de vida, considerando-se fatores socioeconômicos e higiênico sanitários. O Brasil ocupa o segundo lugar no mundo com maior número de pessoas acometidas. Dapsona (DAP) e Clofazimina (CLZ), juntamente com rifampicina, são utilizados no tratamento, em regime de poliquimioterapia única, atualmente disponibilizada por meio de doação, não havendo produção nacional. Visando o desenvolvimento de um medicamento com tecnologia brasileira, a etapa de pré formulação é essencial para garantir a eficácia, segurança e estabilidade. Nesse contexto, esse trabalho teve como objetivo realizar a caracterização e estudos de compatibilidade fármaco-fármaco e fármaco-excipientes com DAP e CLZ. A caracterização dos fármacos e excipientes se deu através das técnicas de DSC e TG/DTA. Adicionalmente, para os fármacos realizou-se análise de DRX e análise de cinética por método não-isotérmico. Para os estudos de compatibilidade, foram obtidas misturas físicas binárias (MB) na proporção 1:1 com os excipientes pré-selecionados e entre os fármacos. Inicialmente realizou-se análise de DSC. As amostras que não apresentaram mudanças significativas, segundo critérios definidos, foram consideradas compatíveis. As que apresentaram mudanças foram submetidos à análise de TG/DTA e FTIR. A DAP apresenta dois picos na curva de DSC, o primeiro relacionado à transição polimórfica de fase sólido-sólido da forma III para a forma II, e o segundo pico endotérmico em 178,64°C, referente à fusão. A análise de DRX corrobora com a evidência da forma polimórfica III. Na análise de TG/DTA, observa-se a primeira etapa de decomposição entre 353,92 a 358,85°C, seguida da pirólise de 457,43°C a 600,60°C. Na cinética de decomposição, foi calculado Ea de 107,34 kJ.mol-1, n = 0,1 e A = 7,66 x 107 min-1. A CLZ possui pico de fusão em 224,53°C, seguido da primeira etapa de decomposição, que se inicia após a fusão. A análise de DSC juntamente com o DRX confirma a forma polimórfica I. Em relação à interação fármaco-fármaco, não houve antecipação do Tonset de fusão da DAP, mas houve para a CLZ. Nesse caso, a DAP no estado líquido, pode ter solubilizado parcialmente os cristais de CLZ, diminuindo a quantidade de energia necessária para iniciar o processo de fusão. Em relação ao processo de decomposição, é possível observar na curva de TG apenas uma etapa principal de decomposição, confirmado através da curva de DTG, com Tonset um pouco antecipado em relação a DAP (ΔT=-8,34°C), mas bem superior em relação a CLZ (ΔT=+57,36°C). Por meio do FTIR, não foi identificado mudanças vibracionais, sendo a MB um somatório das bandas presentes e características dos IFAs isolados. Na avaliação da compatibilidade fármaco-excipiente, inicialmente foi observado e discutido o comportamento térmico de cada excipiente e posteriormente da MB. A DAP se mostrou compatível na avaliação por DSC com EsMg, EstFS, AmGS, CCS, -CD, LSS, CMC 102, AmPG e TAL. Análises de TG e FTIR foram realizadas com MB com SP 80, SP 4000, MAN, PVP K-30, Aero e StarLac®. Para a CLZ, as análises complementares foram realizadas com SP 80, SP 4000, LSS e PVP K-30. De acordo com os resultados obtidos, é possível inferir que não foi confirmada incompatibilidade entre os fármacos e os excipientes selecionados. Diante dos resultados, foram obtidas informações importantes para o desenvolvimento farmacotécnico de uma associação em dose fixa (ADF) contendo DAP e CLZ.