“NÃO DESAMARREM ELA (...) APAGUE A LUZ E DEIXEM ELA PENSAR UM POUCO NO QUE ELE FEZ”: REPERTÓRIOS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO TIKTOK
violência obstétrica; repertórios linguísticos; mulheres; TikTok.
Esta tese teve como objetivo compreender o fenômeno da Violência Obstétrica a partir das narrativas de mulheres que compartilharam suas experiências sobre a gestação e o trabalho de parto em vídeos publicados na plataforma TikTok. A pesquisa, de abordagem qualitativa, fundamentou-se nos pressupostos teórico-metodológicos do Construcionismo Social, considerando a linguagem como prática social e produtora de sentidos e realidades. Foi realizada uma revisão bibliográfica sistemática com o intuito de identificar os repertórios linguísticos presentes na literatura sobre o campo-tema da Violência Obstétrica; em seguida, procedeu-se à análise de vídeos coletados na plataforma referida acima, buscando apreender os repertórios que estruturam as formas de nomear, significar e resistir às experiências vivenciadas pelas mulheres, discutindo, ainda, intersecções de raça, gênero e classe. A revisão evidenciou a naturalização da violência obstétrica, a hegemonia do modelo biomédico e a interseccionalidade das opressões, além do papel emergente das redes sociais como espaço de produção de saberes. A análise empírica identificou seis repertórios linguísticos que organizam os sentidos atribuídos às experiências de parto: o silenciamento das mulheres como prática de controle; a naturalização da dor e da violência; a rememoração e elaboração da violência; o questionamento da autoridade médica e o plano de parto como instrumento de autonomia; a negação do direito ao acompanhante; e a presença da doula como mediação e estratégia de prevenção. Ao mesmo tempo em que denunciam a naturalização das violências obstétricas, as narrativas também constituem espaços de escuta e acolhimento entre mulheres, favorecendo a produção de sentidos de resistência em um contexto de silenciamento das práticas. Conclui-se que as narrativas digitais não apenas denunciam práticas de violência, mas reconstroem sentidos sobre o parto e o cuidado, tensionando o discurso médico hegemônico e afirmando as redes sociais como território legítimo de produção de conhecimento na Psicologia Social.