Assimilação cultural de crianças caboclo-ribeirinhas na Amazônia por meio da brincadeira
Criança caboclo-ribeirinha. Cultura de pares. Interação social. Grupo de brinquedo.
O brincar é considerado uma atividade crucial para vários aspectos do desenvolvimento infantil, principalmente para aprendizagens socioculturais, com trocas de informações, negociações, apreciações estéticas e criação de valores morais e simbólicos. Estudar as rotinas lúdicas de um agrupamento de crianças é aprender mais sobre sua cultura, sobre a comunidade em que vivem e sobre a diversidade de formas de sociabilidade. Assim acontece com as crianças caboclo-ribeirinhas da Amazônia, região conhecida por suas florestas, rede hidrográfica e diversidade biológica e social. A maior parcela de sua população rural é constituída por ribeirinhos – populações tradicionais, que vivem em ecossistemas de várzea, organizados em comunidades. Partindo desse cenário, o objetivo geral desta tese é compreender o processo de assimilação do entorno cultural de crianças ribeirinhas na Amazônia por meio de suas brincadeiras e por influência das crenças e expectativas parentais.
Participaram da pesquisa trinta crianças entre 5 e 10 anos, bem como trinta pais/responsáveis, moradores da comunidade São Francisco de Assis-AM. Para o estudo com as crianças foram videogravados episódios de atividades lúdicas enquanto brincavam livremente com materiais da própria natureza. Para o estudo com os pais foram feitas entrevistas semiestruturadas a respeito de suas crenças e expectativas. Realizou-se uma análise qualitativa microgenética de oito episódios selecionados e transcritos. Os resultados revelam: aprendizagens culturais propiciadas por instrução ativa dos pais ou trocas entre parceiros; transformação de lugares da comunidade em lugares de crianças, efetivada pelo próprio protagonismo lúdico; assimetrias nas relações das crianças; universalidade de brincadeiras versus singularidades no modo de brincar. Em relação aos pais, foram identificadas associações positivas quanto ao brincar; emoções de alegria e medo; e preocupação com o uso frequente de equipamentos eletrônicos substituindo o contato com a natureza. As brincadeiras infantis revelam que o ambiente altera o fenótipo comportamental, instigando as crianças a desenvolverem habilidades e (re)criaem significados.