Macrofauna em areas com e sem estruturas de defesa costeira
Macrofauna. Bentos. Impacto ambiental. Praias. Defesa costeira. Quebra-mar.
As zonas costeiras, por sua complexidade natural e relevância socioeconômica, vêm sendo alvo de crescentes intervenções para conter a erosão, especialmente diante do agravamento provocado pelas mudanças climáticas e a elevação do níveldo mar. No Brasil, o problema é particularmente evidente no Nordeste, com destaque para o estado de Pernambuco, onde cerca de um terço do litoral apresenta processos erosivos. Municípios como Paulista, Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes têm adotado diversas obras de defesa costeira, muitas vezes sem o devido conhecimento sobre seus impactos ecológicos. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a resposta da macrofauna bentônica à implantação dessas estruturas no litoral pernambucano, sendo desenvolvido em três fases. A primeira fase, por meio de uma revisão sistemática, bibliométrica e meta-análise, mapeou o conhecimento científico global sobre os efeitos de estruturas de defesa costeira (EDCs) na macrofauna bentônica entre 2002 e 2024, revelando um aumento expressivo das publicações após 2015 e evidenciando que os quebra-mares de concreto são os mais comuns, com impactos negativos significativos na abundância e densidade da macrofauna. Também foram identificadas lacunas importantes, como a ausência de informações sobre materiais utilizados e sobre variáveis abióticas. Na segunda fase, foram avaliadas nove áreas do litoral de Pernambuco, incluindo ecossistemas artificiais, recifes naturais e praias abertas. Os resultados confirmaram padrões globais, mostrando que as EDCs favorecem sedimentos mais finos e comunidades dominadas por espécies oportunistas, enquanto ambientes naturais mantêm comunidades mais equilibradas. Por fim, na terceira fase, foi realizada uma comparação entre os conjuntos de quebra-mares do Janga e de Casa Caiada, evidenciando que características específicas do projeto das estruturas influenciam diretamente seus efeitos. Janga, com estruturas mais próximas a costa e com menor distância entre elas, apresentou maior deposição sedimentar e homogeneização biológica, enquanto Casa Caiada, com estruturas mais afastadas e mais distantes entre si, demonstrou impactos inferiores aos de Janga e maior heterogeneidade das áreas. O estudo conclui que, embora os efeitos negativos das EDCs sobre os ecossistemas bentônicos sejam predominantes, os resultados obtidos evidenciam a importância de compreender como diferentes configurações dessas estruturas influenciam a resposta biológica local. Ao integrar abordagens globais e análises locais detalhadas, este trabalho contribui significativamente para o avanço do conhecimento sobre os impactos ecológicos das obras de defesa costeira, oferecendo subsídios valiosos para o planejamento de intervenções mais sustentáveis e fundamentadas na conservação ambiental.