Padrões de distribuição dos atributos funcionais de hidroides (Cnidaria, Hydrozoa) influenciados pela salinidade na costa atlântica da América Do Sul
Macroecologia. Biogeografia. Anthoathecata. Leptothecata.
Hidroides são cnidários hidrozoários das superordens “Anthoathecata” (atecados) e Leptothecata (tecados), caracterizados por uma fase de vida séssil dominante, ampla distribuição geográfica e batimétrica, além de elevada plasticidade fenotípica. Pioneiros na colonização de substratos consolidados, inconsolidados e artificiais, esses organismos desempenham um papel ecológico significativo. A biogeografia e a macroecologia oferecem ferramentas importantes para investigar os padrões de distribuição das espécies em relação a fatores evolutivos e ambientais. Entretanto, no ambiente marinho, a complexidade inerente à diversidade de habitats, fatores abióticos e biológicos, bem como barreiras sazonais, torna esses estudos desafiadores e ainda escassos. A costa Atlântica da América do Sul, que abrange diversos habitats, grandes sistemas fluviais, condições climáticas variáveis e correntes oceânicas, influencia diretamente a composição e distribuição dos hidroides. No entanto, há lacunas significativas no conhecimento sobre as relações entre atributos funcionais e fatores ambientais, como batimetria e salinidade, os quais podem modular a morfologia, os hábitos e o ciclo de vida desses organismos, especialmente em ambientes estuarinos. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivos: (1) identificar padrões dos atributos funcionais de hidroides em relação à salinidade ao longo do gradiente latitudinal da costa do Brasil, Uruguai e Argentina; (2) analisar os padrões de distribuição de hidroides nessa mesma região; e (3) listar as espécies de hidroides presentes nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Através dessas análises, buscou-se ampliar o entendimento sobre os processos ecológicos que modulam a distribuição e a diversidade funcional dos hidroides, contribuindo para preencher as lacunas no conhecimento biogeográfico e macroecológico desses organismos na costa Atlântica sul-americana. (1) O comprimento das colônias é influenciado por salinidade, temperatura, substrato e ciclo de vida, com colônias ma iores associadas a menor salinidade. Altas salinidades influenciam negativamente tamanho de hidrantes e tentáculos de hidroides atecados. (2) As assembleias de hidroides do Caribe e Brasil compartilham 26,74% das espécies, com a foz do rio Amazonas atuando como barreira semipermeável e corredor de dispersão. O Sudeste brasileiro apresenta maior riqueza devido à zona de ressurgência. Na Patagônia, correntes das Malvinas influenciam a distribuição, enquanto a salinidade é a principal variável nas regiões brasileiras e caribenhas. (3) Foram identificadas 59 espécies de hidroides de 32 gêneros e 14 famílias. Áreas com mais estações de coleta apresentaram maior riqueza de espécies, reforçando a necessidade de estudos em áreas negligenciadas. A riqueza de espécies diminui com a profundidade, com maior diversidade entre 0–50 m. Substratos biogênicos, como esponjas, são importantes habitats para hidroides epizoicos.