REDE DE INTERAÇÃO PLANTA-VISITANTES FLORAIS E ESTRATÉGIAS REPRODUTIVAS DE ESPÉCIES ENANTIOSTÍLICAS DA SUBTRIBO CASSIINAE
polinização por vibração; enantiostilia monomórfica; subtribo Cassiinae.
A polinização por vibração é um dos sistemas mais especializados em Angiospermas e um dos representantes desse sistema é a subtribo Cassiinae, um grupo altamente diverso em morfologia e funcionalidade floral que apresenta enantiostilia do tipo monomórfica. A partir de uma abordagem de rede de interação e de testes em campo, nós buscamos investigar padrões globais de interações plantas-visitantes florais da enantiostilia monomórfica na subtribo Cassiinae e compreender as estratégias reprodutivas ligadas à produção de morfos florais em uma espécie do gênero Senna. No capítulo I a revisão sistemática incluiu 39 artigos, publicados de 1975 e 2022 e 80% dos estudos foram desenvolvidos na região Neotropical. A buscas retornaram 40 espécies de plantas distribuídas entre os gêneros Senna e Chamaecrista e 199 espécies/morfotipos de visitantes florais. A meta-rede de visitantes florais apresentou estrutura aninhada e modular, formando 12 módulos e o grupo mais representativo foram as abelhas (53.66%). A sub rede mutualista também apresentou aninhamento e modularidade e formou nove módulos. Já a sub rede antagonista não apresentou aninhamento e modularidade significativos e é formada por 10 módulos. Na rede mutualista foi encontrado três espécies de Chamaecrista e uma espécie de Senna atuando como conectoras e apenas espécies de abelhas solitárias atuaram como conectoras. Na rede antagonista, Apis mellifera foi considerada centro de rede e Pseudoaugochlora graminea foi a única espécie conectora. O tamanho das abelhas tem efeito significativo e positivo no tamanho da flor e a interação do tamanho da abelha e o comportamento foi significativa apenas para os polinizadores. Não houve efeito das variáveis testadas nos níveis de especialização das espécies de plantas e abelhas em todas as redes. No capítulo II selecionamos 28 indivíduos de uma população de S. aversiflora. As flores recém abertas foram contabilizadas e classificadas em direitas e esquerdas. As avaliações ocorreram semanalmente, contemplando o início, o pico e o fim da floração dos indivíduos. Foi analisado o efeito do número diário de flores produzidas pelos indivíduos ao longo da floração e dos períodos da fenofase de floração na razão dos morfos florais dos indivíduos. A significância de cada variável explicativa e da interação entre elas foi testada. A razão entre os morfos não diferiu entre as fases de floração. Em contrapartida, o número de flores produzidas influenciou a razão entre os dois morfos, de forma que quanto maior o número de flores, maior a isopletia. Não houve interação entre número de flores e a fase da floração. Concluímos que a rede mutualista contribui com o aninhamento e a modularidade da rede completa de visitantes, visto que as plantas dependem de abelhas grandes especializadas na coleta de pólen por vibração para a eficiência da reprodução. A formação de diferentes módulos parece estar relacionada com a heterogeneidade de habitat de ocorrência das espécies de Cassiinae e as abelhas grandes que polinizam visitam flores maiores, um padrão comum em flores poricidas. O padrão isoplético encontrado em S. Aversiflora é uma estratégia reprodutiva comum em espécies enantiostílicas monomórficas e pode ter papel fundamental na segurança reprodutiva da espécie em cenários biológicos atípicos. Nossos achados apontam para a importância da conservação da diversidade de polinizadores de plantas tão especializadas como as espécies de Cassiinae e para a necessidade de ampliação de estudos que contemplem, sobretudo, as particularidades da enantiostilia monomórfica, um polimorfismo que ainda é negligenciado na literatura de plantas.