TERRA, TRABALHO E FOME: A TERRITORIALIZAÇÃO DO CAPITAL E O ALIMENTO-MERCADORIA
Fome. Alimento. Mercadoria. Capital.
Nesse trabalho observamos o capital territorializado por meio da produção e do consumo do alimento-mercadoria. O alimento-mercadoria é aquele que, por ser mercadoria e ser submetido ao imperativo da acumulação capitalista, é capaz de significar uma inversão de prioridades. Tratamos inicialmente como a mercadoria em si reorganiza essas relações, por impor a elas sua forma abstrata e fetichista que assume um sentido tautológico, gerando uma contradição imanente do capital: quanto mais a produção do alimento se aprofunda enquanto mercadoria, mais esta mercadoria se afasta de seu papel enquanto alimento, e mais ainda a alimentação adequada se torna inacessível. Nessa trajetória observamos que falar da estruturação das relações sociais capitalistas no Brasil e de como elas organizam o acesso ao alimento, é também falar da produção do alimento em si, já que a base social brasileira é construída no espaço agrícola com o protagonismo da produção açucareira no estado de Pernambuco. Passamos pela estruturação dessas relações capitalistas, primeiro pela conformação da concentração da propriedade e da posse da terra e das relações de trabalho enquanto ferramentas de expropriação, como fundamentais pressupostos à reprodução do capital. As relações de trabalho conformadas a partir do fim do escravismo, identificadas como relações de condição e trabalho livre, são transições entre um momento de algum acesso à terra e produção direta de alimentos pelo trabalhador do campo, até aproximadamente o fim do século XIX, em que vemos a generalização do acesso indireto e monetizado do alimento. No contexto predominante de assalariamento, políticas públicas buscarão uma reintegração do trabalhador à terra por meio da redistribuição fundiária e do acesso à terra, mas que não logram a autonomia alimentar nem financeira dessa população, necessitando do Estado também para sua inserção no mercado agrícola. Por fim, a mobilidade do capital avança sobre as últimas tentativas de reconstrução de um suposto campesinato contemporâneo, com a atuação do capital financeiro que apresenta às famílias do campo oportunidades de sobrevivência dentro capital, mas muito distantes da autonomia que significam na verdade um aprofundamento da expropriação e da dependência do alimento como mercadoria.