ASSOCIAÇÃO ENTRE POLIMORFISMOS DE GENES INFLAMATÓRIOS E METABÓLICOS DO EXOMA HUMANO E A GRAVIDADE DA COVID-19
COVID-19; SARS-CoV-2; Gene AGT; SNPs; Co-infecção.
A pandemia de COVID-19 foi mundialmente declarada em 12 de março de 2020. Até 15 de setembro de 2024 foi notificado um total de mais de 776 milhões de casos e mais de 7 milhões de óbitos ao redor do mundo. Sabe-se que fatores virais, ambientais e do hospedeiro estão envolvidos conjuntamente na modulação da doença, resultando em diferentes desfechos. Dentre os fatores virais, pode-se destacar a presença de outros agentes infecciosos que podem influenciar o desfecho clínico da doença, e dentre os fatores do hospedeiro, tem-se a influência de componentes genéticos, como a atuação de Polimorfismos de Nucleotídeo Único. Este estudo teve como objetivo investigar a associação entre os SNPs rs3806268 (NLRP3), rs4925543 (NLRP3), rs12150220 (NLRP1), rs455060 (NLRC4), rs699 (AGT), rs1137101 (LEPR), e rs1801133 (MTHFR) e o desfecho grave/crítico em pacientes COVID-19 brasileiros. Para isso, um total de 100 pacientes foi incluído no estudo, compreendendo 66 casos e 34 controles. Dados de prontuários como idade, sexo, cor/raça, comorbidades, sintomas, hemograma, diagnóstico por RT-PCR e achados laboratoriais (ferritina, PCR, AST, ALT e d-dímero) foram coletados e planilhados. Os casos de COVID-19 foram classificados de acordo com as diretrizes da World Health Organization em leve/moderado e grave/crítico. Além dos dados clínico-epidemiológicos, amostras de 4 mL de sangue total foram coletadas, e destas, o DNA foi extraído, depois sequenciado e genotipado por sequenciamento de nova geração (NGS). Para interpretar os dados clínico-epidemiológicos, testes não paramétricos foram utilizados, como os testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis. O teste de Fisher e a regressão logística multivariada, considerando os critérios AIC e BIC, foram empregados para a análise de risco. Nesta, Odds Ratios (OR) foram calculados, com significância estabelecida em p<0,05. Na população estudada, foi descrito um relato de caso em que uma paciente do sexo feminino e 48 anos de idade apresentou COVID-19 grave juntamente com a co-infecção HIV/L. infantum. Os sinais e sintomas incluíram febre, tosse produtiva e dispneia, bem como saturação de oxigênio ≤93%. Os dados clínico-laboratoriais evidenciaram linfopenia, leucopenia e neutropenia, enquanto os resultados laboratoriais indicaram níveis anormais de dímero D, AST, ALT, desidrogenase láctica, ferritina e proteína C-reativa. Uma tomografia computadorizada revelou 75% de comprometimento do parênquima pulmonar com opacidades em vidro fosco. Já na análise populacional, entre os sete SNPs avaliados, apenas rs699-GG (AGT) (OR=8,07; p=0,04) foi significativamente associado a um aumento no risco de desenvolver COVID-19 grave/crítica. Além disso, uma associação protetora foi observada entre rs1801133-GA (MTHFR) e a doença, entretanto sem significância estatística. No relato de caso, a leucopenia associada ao HIV/L. infantum pode ter desempenhado um papel decisivo. São necessários mais estudos para entender melhor as estratégias diagnósticas e as medidas de manejo clínico para pacientes co-infectados com HIV/L. infantum que são suscetíveis à infecção por SARS-CoV-2. No estudo populacional, o SNP rs699-GG (AGT) foi associado a um aumento no risco de COVID-19 grave/crítica, no entanto mais estudos são necessários a fim de compreender os mecanismos subjacentes que são resultados da influência desse SNP na COVID-19. Esses dados são relevantes para a compreensão da fisiopatologia da doença e prospecção de novas alternativas terapêuticas.