TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO EM ADOLESCENTES
ESCOLARES E OS PREJUÍZOS NA INTERAÇÃO SOCIAL
TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO EM ADOLESCENTES
ESCOLARES E OS PREJUÍZOS NO ASPECTO SOCIAL
A adolescência é a etapa do desenvolvimento humano que compreende indivíduos com
a faixa etária entre 10 e 19 anos de idade (CASTRO; SILVA, M.; PARENTE, 2020). É também
o período do desenvolvimento situado entre a infância e a idade adulta (CASTRO; SILVA, M.;
PARENTE, 2020). Nesse período os indivíduos passam por uma série de mudanças físicas,
psíquicas e sociais evidenciadas por alterações corporais e pela ampliação do aspecto cognitivo
(CASTRO; SILVA, M.; PARENTE, 2020; SACILOTTO; ABAID, 2021).
É durante a adolescência que o indivíduo passará por um grupo de novas experiências,
como o questionamento dos valores familiares e sociais vigentes, adesão a um grupo social,
ingresso em faculdades e no mercado de trabalho e distanciamento familiar (CASTRO; SILVA,
M.; PARENTE, 2020; SACILOTTO; ABAID, 2021). Essas experiências permitirão que o
adolescente adquira capacidades emocionais, que são essenciais para a formação de uma vida
saudável (CASTRO; SILVA, M.; PARENTE, 2020; RODRIGUES, T. A. Dos S.;
RODRIGUES, L. P. De S.; CARDOSO, Â. M. R., 2020). Contudo, a adolescência também é
apontada como uma fase de crises e vulnerabilidades, que são resultados das alterações
biológicas e mentais presentes nesse período e que são responsáveis por aumentar o risco de os
adolescentes serem acometidos por patologias mentais (CASTRO; SILVA, M.; PARENTE,
2020; RODRIGUES, T. A. Dos S.; RODRIGUES, L. P. De S.; CARDOSO, Â. M. R., 2020).
Dentre os problemas de saúde mental, são os Transtornos de Ansiedade (TA) o segundo
grupo de doenças psiquiátricas, mais comumente, encontradas no público infantil e adolescente,
perdendo apenas para os transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade (CAÍRES;
SHINOHARA, 2010; GONÇALVES; HELDT, 2009). Os TA são responsáveis por acometer
3,6% da população mundial, enquanto no Brasil esse índice de acometidos chega a 9,3% da
população (FERNANDES et al., 2018; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE,
2020).
Contudo, a ansiedade, que é caracterizada como uma sensação de desconforto,
apreensão, inquietação e tensão presentes diante de situações de perigo ou eminência de perigo,
ou de ameaça ao bem-estar do indivíduo, é algo inerente ao ser humano (CAÍRES;
SHINOHARA, 2010; GONÇALVES; HELDT, 2009). Essa sensação também, encontra-se
presente diante de situações relacionadas a mudanças na rotina do indivíduo como, iniciar em
um emprego ou uma mudança de cidade (CAÍRES; SHINOHARA, 2010). E diante de um
agente estressor responsável por desencadear a ansiedade o indivíduo pode apresentar respostas
fisiológicas, somáticas e psíquicas, como dificuldade de respirar, aumento dos batimentos
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cardíacos, inquietação, sudorese intensa, tontura, náuseas e tremores (CAÍRES; SHINOHARA,
2010; GONÇALVES; HELDT, 2009).
Entretanto, a ansiedade passa a ser considerada uma patologia quando as respostas do
indivíduo diante do agente estressor são desproporcionais ou apresentam uma estimativa
diversa do que se considera normal a ser apresentado pela faixa etária. Além de, ser responsável
por interferir, negativamente, na qualidade de vida e no desempenho diário do indivíduo
(CAÍRES; SHINOHARA, 2010; GONÇALVES; HELDT, 2009). Outra característica da
ansiedade patológica é que as sensações são desencadeadas diante de um estímulo real ou
imaginário, além de que a resposta fisiológica apresentada pelo indivíduo diante do estímulo é
generalizada e mobiliza todo o organismo (CAÍRES; SHINOHARA, 2010).
No público infanto-juvenil, os TA são responsáveis por acometer 13% dessa população,
no Brasil, e são relacionados a prejuízos nos âmbitos familiar, social e escolar do acometido
(CAÍRES; SHINOHARA, 2010; GONÇALVES; HELDT, 2009). E dentre os TA o mais
presente nesse público é o Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS) que é responsável por
cerca de 50% dos casos na população juvenil brasileira (FLORES, 2019).
O TAS é definido como a presença de ansiedade excessiva, de sofrimento ou de medo
irreal e excessivo quando os adolescentes se encontram longe dos pais ou responsáveis ou até
mesmo do seu lar. E essa ansiedade excessiva é inapropriada para o nível de desenvolvimento
ou para a idade do acometido (CAÍRES; SHINOHARA, 2010; FLORES, 2019). Esses sintomas
devem ser apresentados pelo adolescente por, pelo menos, quatro semanas e resultar em
sofrimento intenso e prejuízos na vida cotidiana (CAÍRES; SHINOHARA, 2010).
Além disso, indivíduos com o TAS, costumam apresentam três características
especificas, que são: a presença de um medo excessivo e persistente ou de preocupações
intensas antes ou diante da separação dos pais ou responsáveis; a busca por formas de evitar
que a separação ocorra, e isso ocorre de forma persistente; e o desenvolvimento do quadro de
sintomas comportamentais e somáticos, antes, durante e após o período de separação (FLORES,
2019).
Crianças e adolescentes com TAS apresentam, além de sintomas comportamentais
como choro e procura pelos pais ou responsáveis após a sua partida, sintomas somáticos
semelhante a um ataque de pânico, composto por cefaléia, dores abdominais e musculares,
tonturas, desmaios, náuseas, dificuldade de respirar e taquicardia dentre outros (CAÍRES;
SHINOHARA, 2010; FLORES, 2019; VIANNA; CAMPOS; LANDEIRA-FERNANDEZ,
2009).
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O TAS, além de, ser responsável por idas frequentes ao médico devido ao quadro de
sintomas apresentados pelo acometido. É associado a recusa escolar pelos acometidos, visto
que, os sintomas, normalmente aparecem em dias em que há escola, já que durante o período
escolar os adolescentes são afastados dos seus pais ou responsáveis o que gera sintomas e
consequentemente sofrimento nos adolescentes e nos pais, que optam por deixá-los em casa
(CAÍRES; SHINOHARA, 2010; FLORES, 2019; GRILLO; SILVA, R., 2004).
Ademais, a presença de sintomas, as idas frequentes ao médico e a recusa escolar afetam
a autonomia do adolescente e restringem a sua interação social e seus interesses futuros,
gerando um estresse pessoal e familiar. Além do mais, adolescentes com TAS vivenciam a
sensação de humilhação e medo, o que resulta em indivíduo com baixa autoestima e com
preditivo para o desenvolvimento de um transtorno de humor (CAÍRES; SHINOHARA, 2010;
FLORES, 2019).
Apesar dos transtornos de ansiedade serem elencados como uma das principais causas
de carga de doença e de incapacidade no mundo, no Brasil, há poucos estudos que avaliem a
epidemiologia desses transtornos e esses estudos são ainda mais escassos, quando o público
adolescente é abordado (BONADIMAN et al., 2017). Mas, um estudo populacional realizado
no Brasil demonstra que a prevalência de transtornos de ansiedade entre os adolescentes é de
5,8% (VIANNA; CAMPOS; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2009). Contudo, há uma escassez de
estudos que abordem, especificamente a epidemiologia do TAS e os efeitos no âmbito social
ocasionados por esse transtorno no público adolescente.
Após uma breve pesquisa realizada na base de dados Pubmed, através do cruzamento
dos descritores: Anxiety Separation, Adolescent e Social Interaction, obteve-se como resultado
36 artigos publicados, desses 20 foram publicados nos últimos 10 anos. E após a seleção do
critério de seleção, estudos realizados com humanos, esse número chega a apenas 9 artigos.
Onde, 2 foram publicados no ano de 2016; 2 no ano de 2017; 3 no ano de 2019 e 1 nos anos de
2020 e 2022. Contudo, 3 dessas pesquisas foram realizadas com crianças e 1 objetivou validar
um instrumento de avaliação. Resultando em um total de 5 artigos, todavia, nenhum desses
artigos tiveram o Brasil como local de estudo. Demonstrando a presença de uma lacuna, que
precisa ser solucionada com realização de estudos que busquem investigar e conhecer a
presença de sintomas de ansiedade de separação em adolescentes escolares no Brasil. Diante
do exposto, torna-se necessário mensurar o índice de adolescentes com transtorno de ansiedade
de separação no país e avaliar como esse transtorno afeta a vida social desses adolescentes.
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Com base nesses argumentos é identificado que ainda são poucos os estudos e portanto
o conhecimento sobre a relação entre o TAS e a interação social entre adolescentes escolares
ainda é restrito.
A hipótese da pesquisa propõe que, a utilização de dados obtidos por avançados
instrumentos de avaliação psicológica e mental, permite avaliar a relação entre TAS e interação
social em adolescentes.