ESTRESSE E ANSIEDADE DE PERFORMANCE MUSICAL EM ESTUDANTES DE CURSOS PROFISSIONALIZANTES DE MÚSICA
Ansiedade de Desempenho, Estudantes, Saúde Mental, Música, Jovem adulto, Estresse, Ansiedade,
Depressão.
A expressão musical, como forma de comunicação intrinsecamente poderosa e multifacetada,
transcende fronteiras culturais, emocionais e temporais, estabelecendo conexões profundas entre
indivíduos de diversas origens e vivências (Barbar et al., 2014; Gomez et al., 2023). A música, dotada
de uma singular capacidade de provocar respostas emocionais intensas, seja por meio de melodias
melancólicas que evocam tristeza, ritmos vibrantes que estimulam a alegria ou harmonias serenas que
induzem à calma, manifesta-se como uma linguagem universal que penetra no cerne da experiência
humana (Levitin, 2021). Além disso, a expressividade musical, desvinculada das limitações da
linguagem verbal, alcança um nível de comunicação direta e visceral, permitindo a transmissão de
mensagens e significados de forma não verbal, acessível e compreensível para além das fronteiras
culturais e linguísticas (Lisboa et al., 2018; Fernholz et al., 2019). Por meio de letras, instrumentos
musicais e arranjos sonoros, a música se revela como uma narrativa poderosa, capaz de expressar
sentimentos complexos, narrar histórias e veicular valores e crenças de maneira universal (Aragão,
2021; Levitin, 2021).
A música desempenha um papel crucial na criação de laços emocionais e sociais, agindo como
um agente catalisador de conexões entre indivíduos e comunidades. Eventos como festivais musicais,
concertos, corais e práticas musicais coletivas exemplificam como a música congrega pessoas em
torno de interesses compartilhados, fortalecendo os vínculos sociais e fomentando a coesão
comunitária (Nedelcut et al., 2018; Gomez et al., 2023). Por meio dessas diversas facetas, a música
se revela como uma força transformadora que transcende barreiras e conecta indivíduos de maneira
profunda, enriquecendo a experiência humana e promovendo a compreensão mútua e a empatia
(Lisboa et al., 2018). Neste contexto, a cultura musical exerce uma poderosa influência na maneira
como os músicos lidam com o estresse, a ansiedade e a depressão, refletindo não apenas a exigência
por alto desempenho, mas também a necessidade de transmitir emoções profundas e autênticas
durante as performances (Helding, 2020; Aragão, 2021).
Contudo, por mais inspirador que seja esse mundo sonoro, ele também é palco de desafios e
adversidades que podem afetar profundamente aqueles que o habitam (Aragão, 2021). Um desses
desafios é a Ansiedade de Performance Musical (APM), uma experiência que está se tornando comum
entre músicos que pode se manifestar como uma ‘sombra’ sobre a beleza da expressão musical (Irie
et al.,2023). Ela não apenas representa um obstáculo individual, mas também destaca a complexidade
da experiência humana diante da arte (Irie et al.,2023). Ao enfrentarmos a APM, somos confrontados
com nossas próprias vulnerabilidades e limitações (Barbar et al., 2014).
5
A busca pela excelência e perfeição técnica na música tem sido uma constante ao longo da
história, moldando não apenas os padrões de desempenho, mas também as expectativas e pressões
enfrentadas pelos estudantes de música em sua jornada de formação (Osborne et al.,2008; Lilti, 2018).
Esta busca pode criar um ambiente de competição e autoexigência que impacta diretamente a saúde
mental e o bem-estar emocional dos estudantes, gerando desafios significativos ao longo de sua
formação (Guyon et al., 2022).
A APM é um fenômeno complexo e amplamente discutido na literatura especializada,
apresentando resultados heterogêneos em diferentes segmentos da comunidade musical (Osborne et
al., 2008; Brugués, 2011; Thomas et al., 2014; Nusseck et al., 2015; Amorim et al., 2016; Sokoli et
al., 2022). Essa variabilidade pode ser atribuída a uma série de fatores, como a definição específica
de APM adotada, as características peculiares das amostras analisadas e os métodos de avaliação
empregados (Gomez et al., 2023). Uma análise aprofundada dos dados disponíveis evidência que
tanto os estudantes de música quanto os músicos de orquestra enfrentam índices elevados de APM
(Wiedemann et al., 2021). Pesquisas apontam que a prevalência da APM pode atingir entre 60% e
80% entre os estudantes universitários de música, enquanto nos membros de orquestras essa taxa
varia entre 16% e 26% (Burin et al., 2019; Jones, 2019; Smith et al., 2020; Kenny, 2023).
A APM não se limita a uma simples manifestação de nervosismo antes de uma apresentação;
pode se manifestar em sintomas físicos, emocionais e cognitivos que impactam a performance do
artista (Helding, 2011; Papageorgi, 2022). A compreensão aprofundada dos mecanismos subjacentes
à APM, suas correlações com outras comorbidades e seu impacto na vida dos músicos são aspectos
essenciais a serem explorados (Gomez et al., 2023; Kenny, 2023). A literatura indica que a APM está
associada a uma redução na qualidade das performances musicais e representa uma preocupação
importante na vida dos músicos (Page et al., 2021). Ademais, evidências apontam para uma conexão
entre APM, dor musculoesquelética relacionada ao desempenho, sintomas de depressão e ansiedade,
evidenciando a complexidade e a inter-relação dos desafios enfrentados pelos profissionais da música
(Brugués, 2011; Burin et al., 2019; Wiedemann et al., 2021; Kenny, 2023). A pressão acadêmica, as
expectativas externas e a autoexigência podem contribuir para o surgimento e a intensificação da
APM entre os estudantes, tornando crucial a identificação de estratégias eficazes de enfrentamento e
suporte emocional (Papageorgi, 2021; Tardif et al., 2024).
A literatura sobre pesquisa musical frequentemente aborda a APM como um conjunto de
fatores que envolvem cognição, excitação e respostas comportamentais, sendo considerada uma
manifestação situacional da ansiedade social, podendo ser vista como um subtipo do transtorno de
ansiedade social (Dalgalarrondo, 2018; Cantilino et al., 2021). Ao explorar a APM em estudantes, é
essencial considerar não apenas os aspectos intrínsecos da prática musical, mas também suas
6
possíveis interações com outras comorbidades e condições psicológicas (Page et al., 2021;
Papageorgi, 2021). A APM pode estar intrinsecamente ligada a outras questões emocionais e
psicológicas, ampliando sua complexidade e impacto na vida dos estudantes (Taruskin, 2019; Guyon
et al., 2022; Nwokenna et al., 2022). Sendo assim, o objetivo deste estudo é analisar possíveis
associações entre a APM e níveis de estresse, depressão, ansiedade em alunos de cursos
profissionalizantes de música.