TRATAMENTO MICROCIRÚRGICO DOS ANEURISMAS CEREBRAIS ROTOS NA ERA ENDOVASCULAR: CARACTERÍSTICAS, CURVA DE APRENDIZADO E COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE TRATAMENTO.
Hemorragia subaracnóidea; Microcirurgia; Aneurisma cerebral; Tratamento endovascular; Curva de aprendizado; Colo largo.
E
Introdução: Atualmente, a maioria dos aneurismas rotos é tratado por método endovascular.
No entanto, nem todos os aneurismas são passíveis de tratamento endovascular. Estes
aneurismas, porém, têm características anatômicas que tornam o tratamento microcirúrgico
complexo, tal fato pode mudar as características de pacientes e aneurismas tratados por
microcirurgia em relação àquelas classicamente descritas na literatura. Adicionalmente, a
formação de novos neurocirurgiões dedicados à neurocirurgia vascular aberta pode tornar-se
desafiadora em um cenário onde aneurismas complexos devem ser tratados no início da
carreira, levantando questões sobre a segurança da curva de aprendizado. Objetivos: analisar
as características de pacientes e aneurismas tratados com microcirurgia após hemorragia
subaracnóidea, avaliando: 1) a curva de aprendizado, buscando identificar períodos críticos à
segurança do paciente; 2) o impacto da presença de colo largo nos resultados clínicos e
radiológicos da microcirurgia; e 3) a aplicabilidade dos resultados dos estudos randomizados
controlados (ERCs) à prática clínica diária, comparando os resultados dos métodos
microcirúrgico e endovascular. Métodos: analisamos prospectivamente as características dos
pacientes e os resultados clínicos e radiológicos do tratamento microcirúrgico de aneurismas
cerebrais rotos no Hospital da Restauração entre 2014 a 2021. A incidência de complicações
cirúrgicas e os resultados clínicos obtidos durante a curva de aprendizado foram analisados.
Adicionalmente comparamos as características e resultados de pacientes com aneurismas de
colo estreito e largo, buscando avaliar o impacto da presença do colo largo nos resultados após
microcirurgia. O estudo comparativo entre o tratamento endovascular e a microcirurgia foi
realizado em duas etapas: uma retrospectiva e uma prospectiva, esta última buscando validar
os resultados obtidos na análise retrospectiva. Resultados: na análise da curva de aprendizado,
foi observada uma alta frequência de aneurismas de colo largo. Uma correlação entre a
experiência cirúrgica e os desfechos clínicos foi observada, com experiência cirúrgica
progressiva resultando em menor incidência de desfechos desfavoráveis. Também observamos
maior frequência de desfechos desfavoráveis entre os primeiros 40 casos tratados. Pacientes
com aneurismas de colo largo apresentaram idade e grau de Hunt-Hess mais elevados. Não
observamos diferenças significantes nos resultados clínicos e radiológicos entre pacientes com
aneurismas de colo estreito e largo. Por fim, não observamos superioridade do tratamento
endovascular sobre a microcirurgia em nenhuma das duas coortes (retrospectiva e prospectiva).
Houve, no entanto, um menor tempo entre ictus e oclusão do aneurisma e uma tendência a
maior mortalidade após tratamento endovascular, contrariando os resultados dos ERCs.
Conclusões: Observamos uma alta prevalência de aneurismas de colo largo. Os neurocirurgiões
jovens devem ser treinados e preparados para lidar com esses aneurismas no início de suas
carreiras. Os primeiros 40 casos foram associados a piores desfechos, indicando que esse
período pode ser mais crítico para a segurança do paciente. Não observamos impacto
significativo da presença de colo largo nos resultados clínicos e radiológicos obtidos após
microcirurgia. Contrariando os resultados dos ERCs, não observamos superioridade do
tratamento endovascular sobre o tratamento microcirúrgico dos aneurismas cerebrais rotos.