RECIFE, CIDADE CRIATIVA DA MÚSICA? Relação entre as políticas públicas de cultura e assimetrias entre trabalhadores da música nos ciclos carnavalescos (2021-2023)
Cidades Criativas; Unesco; Covid-19; Carnaval; Políticas Culturais; Recife.
As cidades criativas utilizam a criatividade como estratégia para aplicação de políticas públicas que, dentre muitos aspectos, visam à resolução de seus problemas internos, dentre eles as questões de redução de suas assimetrias e melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos. Em 2004, a Unesco criou a Rede de Cidades Criativas, por entender e valorizar as artes e a cultura como grandes pilares dos territórios urbanos. Em 2021, a cidade do Recife ingressou à rede como cidade criativa da música graças à sua grande diversidade musical, com ritmos já consagrados como o Frevo, Maracatu, Caboclinho e Afoxé. Estes ritmos colaboram para a consolidação da forte imagem musical da cidade e suas manifestações culminam no momento apoteótico do Carnaval, que é considerado um dos maiores do mundo. O evento é responsável por movimentar a cidade não somente no âmbito financeiro, mas cultural, que estimula a interação das camadas populares. No entanto, devido à pandemia de covid-19, em 2021 e 2022 a cidade viveu o cancelamento das festas carnavalescas, onde o setor cultural se encontrou impedido de atuar pelas medidas sanitárias de isolamento impostas, tendo retomado com o carnaval em 2023. Pensando na cidade criativa enquanto o resultado de uma estratégia de gestão, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a relação entre as políticas públicas de cultura e assimetrias entre trabalhadores da música nos ciclos carnavalescos de 2021 a 2023. A investigação teve como estratégia a abordagem qualitativa. As técnicas de coleta de dados se deram por meio de pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas com 5 atores envolvidos no ciclo carnavalesco da cidade do Recife. A técnica de análise dos dados escolhida foi a Análise Temática, com o aporte do software de processamento de dados ATLAS.ti. Os resultados demonstram que as políticas públicas criadas para os trabalhadores do carnaval durante a pandemia de covid-19 - o AME 2021 e o AMA 2022 - foram conquistas da participação ativa de membros da sociedade civil organizada, ou seja, dos profissionais da cultura, e se mostraram insuficientes para contemplar a complexa cadeia envolvida no evento. Também é possível identificar as fragilidades do processo da Convocatória Artística, principal caminho para as atrações serem contratadas pela gestão municipal. A cidade do Recife enquanto cidade criativa, ainda apresenta questões sobre sua transparência e disposição de dados sobre os gastos destinados ao carnaval. Também se pode afirmar que o selo de cidade criativa ainda carece de uma governança clara e delimitada para tratar de suas estratégias de gestão que podem viabilizar políticas públicas de cultura que fortaleçam o setor, a preservação das manifestações populares, as festividades carnavalescas e a diminuição dos contrastes entre os artistas de palco e de chão ainda presentes na festa.