AS EXPERIÊNCIAS, AS INTERAÇÕES E AS BRINCADEIRAS NO ESPAÇO-TEMPO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: o que nos dizem as crianças e a Infância
Brincadeiras. Interações. Educação Infantil. Infância.
Nas dobras do cotidiano, nos fios que escapam das rotinas escolares, entre composições,
reinvenções, pequenos gestos e mundos que as crianças criam com o corpo inteiro, nos
deixamos tocar por aquilo que insiste em dizer — mesmo sem palavras. É nesse entre,
nesse sopro, que algo insurge e nos convida a pensar as infâncias, suas linguagens, seus
modos de brincar, de educar e de existir. Este projeto de pesquisa se constrói entre os
rastros e ruídos da Educação Infantil, com uma turma de Pré-Escolar II. Mais do que
estudar a infância, buscamos caminhar com ela, acompanhando seus movimentos e
invenções nos espaços-tempos do brincar e das interações. O trabalho é conduzido pela
cartografia — não como técnica de observação, mas como forma de envolvimento, de
presença, de escuta atenta e sensível. Uma escrita que nasce do chão, dos afetos e das
experiências que se entrelaçam no cotidiano escolar. Justifica-se esta investigação pela
urgência de resistir às capturas que ainda tratam a criança como um “vir a ser”, como
alguém incompleto, à espera do futuro. Em contracorrente, afirmamos a infância como
presença intensa e que também é potência em seus gestos, invencionices, criação e
imaginação. Em tempos de normatização dos corpos e dos saberes, este estudo deseja
abrir frestas por onde passem a poesia, o riso, o jogo, a criação. Os pensamentos de Jorge
Larrosa, Walter Kohan, Walter Benjamin, Carlos Skliar, Gilles Deleuze, Giorgio
Agamben e a poesia de Manoel de Barros, dentre outros intercessores, sustentam este
percurso, oferecendo palavras que não aprisionam, mas que dançam com a infância, com
seus silêncios e invenções. E, sobretudo, nesses movimentos traremos as crianças como
intercessoras primeiras, crianças-cartógrafas de nossa pesquisa porque agenciam os
percursos, traçando os próprios caminhos, construindo seus dizeres e fazeres próprios. O
trabalho é conduzido pela cartografia, inspirada em Rolnik, Barros e Kastrup, Simonini,
entre outros, que propõem mapear relações, intensidades e fluxos sem reduzir a
experiência a categorias fixas. A cartografia aqui não é técnica de observação, mas um
modo de envolvimento, uma escrita que se inscreve no espaço e nos afetos, registrando
as linhas de força, as variações e as pequenas invenções que atravessam o cotidiano da
instituição de Educação Infantil a partir dos dizeres das crianças sobre as interações e as
brincadeiras. Ainda sem resultados concluídos, este projeto de pesquisa se deixa afetar
pelas perguntas mais do que pelas respostas.