ABORDAGEM SENSÍVEL AO GÊNERO PARA O ENSINO DO PENSAMENTO
COMPUTACIONAL NO FUNDAMENTAL I
gênero; pensamento computacional; autoeficácia; abordagem
de ensino sensível ao gênero.
Estudos indicam que, desde os seis anos, as crianças desenvolvem percepções
estereotipadas sobre áreas de conhecimento consideradas "apropriadas" para
cada gênero, o que pode levar as meninas a duvidar de sua capacidade
intelectual. A exposição precoce a currículos STEM pode contribuir para a
redução desses estereótipos e para o aumento do interesse feminino na área.
No entanto, no Brasil, a maioria das iniciativas STEM voltadas para o
público feminino concentra-se no ensino médio e superior. Com o objetivo de
preencher essa lacuna, foi desenvolvido um material didático sensível ao
gênero, fundamentado na teoria da autoeficácia de Albert Bandura e
estruturado a partir do Storytelling “O nascimento e as primeiras
descobertas de Ana”. A narrativa abordou questões de gênero, como
representatividade feminina e desconstrução de estereótipos, além dos
pilares do Pensamento Computacional, incluindo algoritmo, abstração,
decomposição e reconhecimento de padrões, por meio de situações cotidianas.
O material foi acompanhado de atividades plugadas e desplugadas e elaborado
com base na metodologia Design Thinking. Sua avaliação envolveu entrevistas
com especialistas da área e uma análise qualitativa realizada com 14
crianças do 4º ano do Ensino Fundamental I. Para a análise dos dados, foi
utilizada a abordagem dedutiva, com base no método Template Analysis, um
tipo de análise temática que permite desenvolver um modelo de códigos
fundamentado em dados prévios ou pesquisa anterior. A partir desse modelo
inicial, analisamos os aspectos que podem afetar ou favorecer a
autoeficácia das meninas, considerando as quatro fontes da autoeficácia:
experiência pessoal, persuasão verbal, experiência vicária e fatores
emocionais. Os resultados revelaram que as meninas demonstram interesse e
potencial na computação, mas sua autoeficácia ainda não está completamente
consolidada. Muitas afirmaram se sentir confiantes para realizar atividades
futuras, porém essa confiança foi frequentemente condicionada ao apoio do
grupo, à simplicidade da tarefa ou à possibilidade de realizá-la em seu
próprio ritmo. A experiência vicária teve um impacto positivo,
especialmente pela identificação com personagens femininas na narrativa,
como Ana e sua mãe, que foram reconhecidas como modelos de referência. A
persuasão verbal, por meio de incentivos e feedbacks positivos de
professores e familiares, também se mostrou fundamental para reforçar a
motivação das meninas. Entretanto, fatores emocionais, como o medo de errar
e a insegurança diante de desafios mais complexos, influenciaram
negativamente a crença na própria capacidade. Os achados desta pesquisa
reforçam a necessidade de abordagens pedagógicas que considerem a
diversidade de experiências das crianças e promovam um ambiente de
aprendizado mais inclusivo e encorajador. Estratégias que combinam
representatividade feminina, feedback positivo e atividades práticas
adaptadas ao ritmo das alunas podem fortalecer a autoeficácia e despertar o
interesse feminino pela computação desde o Ensino Fundamental I.