JUSTIÇA DO TRABALHO, POLÍTICA REMUNERATÓRIA E DESIGUALDADE
Desigualdade remuneratória; Justiça do Trabalho; Políticas salariais; Agenda 2030; Setor público.
Desde 2018, quando aderiu à Agenda 2030, o Poder Judiciário brasileiro se
comprometeu perante a ONU com a redução progressiva das desigualdades. No
entanto, recentes modificações na política remuneratória dos Tribunais sugerem que
sua elite está se afastando, cada vez mais, da realidade do funcionalismo dos outros
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
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poderes. Com foco na Justiça do Trabalho, este trabalho investiga se, após a adesão
à Agenda 2030, a política remuneratória deste ramo do Judiciário se tornou menos
desigual. O objetivo é verificar se houve variações relevantes no grau de
desigualdade na folha de pagamento da Justiça do Trabalho sob uma perspectiva
temporal, entre janeiro de 2018 e setembro de 2024, e sob uma perspectiva
comparada, considerando os próprios tribunais trabalhistas entre si e a Justiça
Federal. Metodologicamente, as desigualdades foram interpretadas a partir de
recursos de estatística descritiva, bem como do coeficiente de Gini, dos índices T-
Theil e L-Theil, e de razões entre topo e base. Os dados foram coletados a partir dos
portais de transparência dos Tribunais. Os resultados revelam um crescimento das
desigualdades remuneratórias no período analisado, contrariando o compromisso
com a Agenda Global. Foi observada uma enorme heterogeneidade entre as
estruturas remuneratórias dos Tribunais do Trabalho, sugerindo que a autonomia
administrativa destes deve influenciar, em alguma medida, na configuração da
desigualdade salarial, mesmo sob um regime de carreiras unificadas. Além disso, as
remunerações médias de magistrados, analistas e técnicos aumentaram em termos
reais, mas a distribuição dos ganhos favoreceu desproporcionalmente os segmentos
mais bem remunerados, intra e entre classes, evidenciando uma tendência de
concentração de renda no topo das carreiras, sobretudo na magistratura. A
comparação entre a Justiça do Trabalho e a Justiça Federal, embora não permita
expandir conclusões para Tribunais excluídos na análise, demonstrou que as
desigualdades se ampliaram ao longo do tempo com uma certa equivalência, se
desconsideradas as discrepâncias internas entre os TRTs, mas que a distância entre
base e topo, via de regra, tende a ser maior no âmbito trabalhista. A pesquisa
contribui para o debate sobre desigualdades no funcionalismo público, com foco na
Justiça do Trabalho, evidenciando a importância de ações de divulgação,
monitoramento e correção de distorções da política remuneratória intra-institucional,
sem afastar a necessidade de reformas mais amplas. Estudos futuros podem
aprofundar a investigação sobre a causalidade das desigualdades identificadas e
propor mecanismos de equidade salarial mais eficazes.