NO RASTRO DO PITITI - Paisagem cultural, objetos de arte e fruições caatingueiras na Serra do Catimbau
Catimbau. Narrativas. Antropologia da Arte. Arqueologia Kapinawá.
“O significado de Catimbau é cachimbo de caboclo, prática de feitiçaria e terra dos índios e caboclos”. Com este discurso do significado, muitos guias de turismo introduzem suas narrativas aos visitantes e desta forma vinculam a extensa região do Catimbau aos antepassados indígenas. Catimbau dá nome ao riacho que entrecruza dois territórios – delimitados juridicamente como terra indígena e parque nacional –, além de ser uma serra conjugando os demais relevos da extensa região de transição entre o agreste e sertão pernambucano. A investigação proposta se insere na complexa paisagem cultural da Serra do Catimbau dispondo seus elementos naturais como testemunhos dos contatos interétnicos, os quais moldaram e continuam a moldar uma cosmovisão distintiva. É neste território que a etnografia efetua imersões identificando atributos do pensamento caatingueiro e das fruições com atores sociais conectados ao patrimônio cultural e arqueológico. Esta tese se empenha na contextualização socioambiental atravessada por expressões visuais do passado pré-colonial, reconhecendo-as como agentes para agrupamentos sociais contemporâneos. A etnografia revela como as narrativas caatingueiras manifestam modos de ler o mundo, ativando a escuta e inferindo a relação corpo-ambiente para a compreensão e apresentação de objetos de arte no Catimbau, em especial do povo Kapinawá. Ademais, submeto uma discussão sobre tomada de posição, resistência e memória, como noções que implicam diretamente em processos étnicos, território e ancestralidade. Tanto a antropologia quanto a arte têm cada vez mais evocado seu caráter reflexivo debruçando-se na compreensão das sociedades por meio das expressões artístico-culturais. Nesta tese, investigamos as manifestações visuais na Serra do Catimbau a partir de uma etnografia do caminhar, uma abordagem para discussão e projeção da arte centrada no conhecimento caatingueiro. O foco está no contexto socioambiental e suas cosmopolíticas, na arte rupestre e objetos de arte, tendo as fruições contemporâneas como ponto de partida. A Serra do Catimbau é um complexo paisagístico de grande relevância, não apenas por suas qualidades cênicas, mas por seu revelador patrimônio arqueológico e por agregar inspiradora sociobiodiversidade. As cosmovisões expressas neste cenário do bioma caatinga são alicerçadas por laços histórico-culturais com testemunhos indígenas e dos fatores migratórios de distintos grupos sociais. Apresentamos um acervo distintivo, dos registros rupestres às expressões da atualidade, uma compreensão do patrimônio em sua qualidade integral, onde a questão ambiental e as relações socioculturais se destacam com a presença indígena com a qual a apropriação do patrimônio expressa-se pertinente às demandas e emergências contemporâneas.