VEGANISMO POPULAR, ANTIESPECISMO E ECOLOGIA: A PERSPECTIVA HUMANA-ANIMAL-AMBIENTE DA ANTAR –
PODER POPULAR ANTIESPECISTA
Veganismo popular; Antiespecismo; Veganismo feijão com arroz; Povos ìndigenas; Libertação interacional; Ecologia radical
Esta dissertação investiga o veganismo como um movimento social e político que ultrapassa os limites de uma simples escolha
alimentar, propondo uma transformação nas formas de relação entre humanos e outros animais. Partindo do conceito de especismo, formulado por
Richard Ryder na década de 1970, compreende-se que a luta antiespecista se fundamenta na crítica às hierarquias morais que sustentam a
“exploração animal” e na defesa da senciência como critério ético central. Entretanto, o trabalho evidencia que o veganismo contemporâneo não
constitui um campo homogêneo: diferentes vertentes, como um veganismo mercadológico, o veganismo abolicionista e o popular, divergem quanto
às estratégias, valores e finalidades do movimento. A pesquisa tem como foco etnográfico o coletivo ANTAR – Poder Popular Antiespecista, um
grupo fundado em 2019 que propõe um veganismo popular, articulando antiespecismo, ecologismo e lutas sociais. Por meio de observação
participante, análise de reuniões, eventos e publicações em redes sociais, investigo como a ANTAR constrói um projeto político que busca integrar
as lutas humanas, animais e ambientais, defendendo uma libertação conjunta e interdependente. O coletivo se diferencia de outras correntes ao
propor uma militância de base, crítica ao neoliberalismo e ao veganismo de mercado, aproximando-se das pautas feministas, antirracistas,
trabalhistas e decoloniais e contraculturais. Metodologicamente, a pesquisa se desenvolve a partir de uma inserção participante, atravessada por
experiências de pertencimento e conflito, incluindo o episódio de expulsão do pesquisador do coletivo, o que permitiu refletir sobre as dinâmicas de
vigilância, coerência e tensões internas do grupo. Proponho o conceito de libertação interacional para pensar as conexões entre libertação humana,
animal e ambiental. Ao final, argumenta-se que o veganismo popular, conforme formulado pela ANTAR, constitui uma tentativa de refundar o
veganismo como projeto político de transformação social, ampliando suas fronteiras éticas e epistemológicas, destacando-se sua aproximação aos
povos indígenas e a defesa de um “veganismo feijão arroz” que se articula a partir da alimentação e produção local. Mais do que um estilo de vida
ou prática de consumo, o veganismo aparece aqui como uma práxis anticapitalista, anticolonial e ecológica radical, orientada por uma ética de
solidariedade entre espécies e pela busca de novas formas de coexistência.