POLÍTICA DO CUIDADO: BIOATIVISMO, CIDADANIA TERAPÊUTICA E MATERNIDADE ATÍPICA EM RECIFE/PE
Saúde, Cuidado; Ativismo Materno; Bioativismo; Cidadania Terapêutica
A presente tese propõe uma análise do ativismo materno em torno da cannabis medicinal em Recife/PE a partir
de diferentes cenas etnográficas que envolvem serviços públicos de saúde, mobilizações políticas e atividades
formativas. Por meio das contribuições teóricas de Annemarie Mol, Steven Epstein, Stengers, Nguyen, Valle,
Castro, Lugones e Mohanty, entre outras/os autoras/es, a pesquisa busca demonstrar como mães ativistas
mobilizam conhecimentos, saberes e redes de solidariedade na busca por direitos coletivos no campo da saúde.
A partir da abordagem praxiográfica e dos conceitos de cidadania terapêutica, bioativismo, ativismo biossocial,
expertise leiga, entre outros aportes teóricos, o estudo buscou compreender como a atuação de tais sujeitos têm
agenciado transformações no sistema médico-científico e jurídico-legal, ensejando reflexões relativas às
práticas de saúde e cuidado além dos parâmetros biomédicos hegemônicos. Nessa perspectiva, as cenas
etnográficas revelam que as mães ativistas mobilizam novas formas de legitimidade epistêmica e política,
instituindo novas formas de cidadania e ativismo que colocam a experiência do cuidado como fundamento
legítimo da prática política. Ao reivindicar o direito à saúde, elas reconfiguram as fronteiras entre público e
privado e entre saber oficial e experiencial. Trata-se de uma forma de ativismo que transforma a experiência
cotidiana em argumento e conhecimento, onde a maternidade é reconfigurada como campo de resistência.
Assim, o ativismo materno em torno da cannabis medicinal evidencia mudanças nos modos de produzir
conhecimento, fazer política e nas formas de tratamento de saúde e de cuidado. Ao transformar a dor e o
sofrimento em ação política, tais ativistas ao mobilizarem saberes biomédicos e experienciais, deslocam as
fronteiras entre ciência e experiência, evidenciando outras formas de conhecimento, instituindo com isso, uma
base legítima para o reconhecimento e a reivindicação de direitos no campo da saúde.