Povo Anacé e o Complexo do Pecém: Impactos, Resistências e Territorialidades
Impactos socioambientais; Territorialidade indígena; Povo Anacé; Resistência
Esta dissertação é fruto de uma pesquisa iniciada em 2018 na aldeia indígena Japuara, localizada em
Caucaia-CE, território tradicional do povo Anacé, protagonistas e colaboradores deste estudo. As questões
inicialmente levantadas estavam relacionadas à luta pela defesa territorial, uma vez que a terra ainda não é
demarcada, e à preservação ambiental, condições fundamentais para a reprodução cultural. O Complexo
Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) aparece como a principal ameaça apontada pelas lideranças, destaca-se
como vetor da fragmentação territorial e social da grande nação Anacé, dividida hoje em múltiplos núcleos de
organização política, descritos ao longo deste trabalho. Nosso objetivo é analisar os impactos diretos e indiretos
provocados por esse megaprojeto sobre a vida social desse grupo étnico, em especial a aldeia Japuara, bem como
compreender as estratégias de resistência e ação mobilizadas pelos sujeitos diante das pressões que os afetam.
O território, palco de intensos embates, também é pensado por suas potencialidades insurgentes e insubmissas,
que expressam os séculos de resistência indígena na história do Ceará. A pesquisa se insere na conjuntura
marcada pela chegada do projeto do Porto do Pecém, na década de 1990, que, após sucessivas expansões, deu
origem ao CIPP, um dos maiores empreendimentos do estado, representando quase metade do seu PIB. Ao longo
da dissertação, analisamos as relações estabelecidas pelos Anacé entre si, enquanto coletividade, e com a terra
tradicionalmente ocupada, alvo de disputas históricas e constantes. No coração desse conflito, buscamos dar
visibilidade à luta em defesa do corpo-território Anacé, que pulsa em vitalidade, memória e resistência no sangue
e suor entregues à causa indígena.