Capoeiras da Barreira: existências contra-hegemônicas de ginga e mandinga
Capoeira, Barreira Rosário, Antropologia, Teoria Decolonial, Epistemologias Afrodiaspóricas.
Entre o final da década de 1970 e começo de 1980, um grupo de crianças e jovens assumiu o protagonismo da retomada da capoeira na
Barreira do Rosário, comunidade periférica do Sítio Histórico, na cidade de Olinda, em Pernambuco. A manifestação ancestral e
afrodiaspórica, historicamente reprimida e criminalizada, foi reavivada neste território por meio das práticas, apresentações públicas e
formação de rodas em locais que hoje se constituem como lugares de memória da capoeira: como Mercado da Ribeira, Alto da Sé e
Mercado Eufrásio Barbosa. Esse movimento fez com que da Barreira do Rosário emergisse um número expressivo de mestres, mestras,
professores e praticantes que perseveraram na manutenção e salvaguarda da manifestação até a atualidade. Apesar disso, os detentores
que se originaram nessa matriz da Barreira, consideram que suas trajetórias, seus protagonismos e as dinâmicas desenvolvidas na Barreira
do Rosário foram negligenciadas ou subalternizadas na produção de conhecimento institucional e acadêmico sobre a capoeira
pernambucana. Isto se deve, segundo suas perspectivas, porque o grupo se manteve distante das relações hegemônicas voltadas aos
processos de ordenação da prática, que normatizaram a manifestação nos moldes de “esporte nacional”. Os capoeiras da Barreira, que
assumiram a alcunha de maloqueiros da Barreira, como eram chamados pelos pares que não partilhavam de suas vivências comunitárias,
buscam ativamente romper com essa invisibilidade e exaltar a potência tanto do lugar, como das pessoas produzindo novos
reconhecimentos acerca da manifestação. A feição deste estudo começou a ser forjada em 2019, no contexto da complementação do Dossiê
de Registro da Capoeira de Pernambuco, momento em que pesquisadora e mestres passaram a estabelecer contato para a realização de
projetos não acadêmicos e acadêmicos, que versam sobre essas trajetórias. Os arranjos e resultados dessas ações foram a base para a
constituição do corpo de dados desta tese, por isso a compreendemos como uma pesquisa colaborativa. O estudo visa explicitar, a partir da
teoria antropológica, de epistemologias, autoras e autores decoloniais e afrodiaspóricos, os dispositivos empregados pelas colonialidades do
saber, do ser e do poder, que impactaram nessas trajetórias de vida e suas consequentes invisibilizações, ao mesmo tempo que investe na
análise das estratégias e táticas desses colaboradores, para Identificar-Interrogar-Interromper a colonialidade, por meio de suas existências
em ginga.