A ritualização da morte entre evangélicos: uma etnografia dos adventistas do sétimo dia em Açailândia - MA
Evangélicos. Rituais. Adventistas. Luto. Cidade de Açailândia (MA)
Surgida desordenadamente de uma rodovia soerguida nos anos 1950, a cidade de Açailândia (MA) vai se tornando atrativa e ponto de fixação a partir do veio evangélico de uma colônia presbiteriana que, de certa forma, possibilita nos anos 1970 o desenvolvimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia, sendo alguns de seus princípios a guarda do sábado, a crença no retorno breve de Cristo, a imutabilidade da Bíblia e a incomunicabilidade entre mortos e vivos. Diferente da cosmologia católica, nos princípios adventistas os mortos não interferem na vida dos vivos e não possuem um local próprio, pois a ideia de inferno é fugidia e se vincula à ausência do céu. Algumas abordagens clássicas sobre a morte na contemporaneidade acabaram por interpretar esse viés de incomunicabilidade como uma simplificação ou inexistência dos ritos funerários, o que a
presente etnografia acabou por refutar ao olhar as atitudes perante a morte dos Adventistas dentro do conceito interacionista de ritualização, onde as práticas de velar, sepultar e enlutar são identificadas e marcadas de modo mais espaçado no tempo, com elementos individuais e interações específicas do ambiente privado do lar. Desta forma no velório e sepultamento predomina o culto para os vivos, as músicas que revelam a esperança
na ressurreição para a eternidade, a palavra que conforta os parente e amigos próximos, a saudade e as memórias partilhadas com o ente querido.
Salvo algumas exceções, o túmulo em si não possui uma importância e os cuidados com ele são básicos, restando as relações com a memória do morto na lida com o luto, que é trabalhado em sonhos, lembranças, presságios, sentimentos e no cultivo de objetos de memória cujo uso pode ser ressignificado e interpretado diariamente. A morte entre os Adventistas do Sétimo Dia da cidade de Açailândia (MA) é vista (no discurso nativo) como um sono de espera, sendo que os vivos convivem com seus mortos através das memórias, em uma ritualização com poucas marcações gerais e repletas de uma inventividade onírica de quem interage com sensações, gostos, odores e vontades de quem, em tese, não interfere mais no único mundo possível – o mundo dos vivos.