UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Recife, 25 de Abril de 2025

Visualização da Ação de Extensão


Ação de Extensão
Título: Lazer e sociedade: Pensando o Brasil pela f(r)esta
Ano: 2024 Nº Bolsas Concedidas: 0 Nº Discentes Envolvidos: 1 Público Estimado: 60
Período do Curso: 23/04/2024 a 21/06/2024
Área Principal: Cultura Área do CNPq: Ciências Humanas
Unidade Proponente: CURSOS DE EDUCAÇÃO FISICA - CAV Unidades Envolvidas:
Tipo: CURSO
Municípios de Realização: VITÓRIA DE SANTO ANTÃO - PE
Espaços de Realização: On-line, com aulas sincronas e atividades assincronas.
Fonte de Financiamento: AÇÃO AUTO-FINANCIADA
Modalidade do Curso: Remoto Tipo do Curso: INICIAÇÃO
Tipo do Evento: Carga Horária: 30 Quantidade de Vagas: 60
Responsável pela Ação: RENATO MACHADO SALDANHA
E-mail do Responsável: renato.saldanha@ufpe.br
Contato do Responsável: (81) 99556-3589
Url da Acão: https://sigaa.ufpe.br/sigaa/link/public/extensao/visualizacaoAcaoExtensao/769

Resumo

 

O curso tem como propósito introduzir o debate sobre as possibilidades de (re)pensar a sociedade brasileira a partir das suas práticas festivas e de lazer. Procura, portanto, socializar com a comunidade acadêmica (em especial com os estudantes de graduação em educação física da UFPE) parte do acúmulo teórico que vem sendo produzido nos últimos anos no campo dos Estudos do Lazer no Brasil, promovendo um olhar menos simplista e estereotipado sobre as produções culturais de nosso povo e ampliando as possibilidades de engajamento dos estudantes de graduação na produção científica. O curso contará com 5 encontros síncronas, e atividades remotas (estudos dirigidos de artigos, podcast, e produções audiovisuais). Os encontros serão realizados de modo remoto, pelo Google Meet (o link será enviado pela organização para o email informado no momento de inscrição). As inscrições se iniciarão no dia 8 de abril, e o primeiro encontro síncrono será no dia 23 de abril de 2024. Os encontros seguintes serão nos dias 7 e 21 de maio, 4 e 11 de junho, sempre das 19h00 às 21h30. O curso é uma iniciativa do Grupo de Estudos em Festas, Futebol e Torcidas (GEFFUT-PE), e espera atrair prioritariamente estudantes da graduação (bacharelado e licenciatura) em Educação Física no Centro Acadêmico de Vitória, interessados em analisar as práticas de lazer e esportivas a partir do referencial das ciências humanas e sociais. Porém, discentes de outros campis e instituições, bem como de outros cursos, como história, comunicação, ou ciências sociais, também poderão participar. Com a realização desse curso esperamos: 1) Consolidar o Grupo de Estudos em Festas, Futebol e Torcidas, despertando o interesse de alunos para participar do grupo. 2) Atrair para futuras orientações discentes interessados em produzir estudos (trabalhos de conclusão de curso, artigos, ou trabalhos para apresentação em eventos científicos) sobre a temática. 3) Promover a valorização social das práticas festivas e de lazer, pela indicação de seu papel significativo na nossa formação social e cultural. 4) Promover a aproximação dos discentes de grupos recreativos locais (como grupos carnavalescos ou organizações torcedoras) 5) Contribuir com a formação política e profissional dos discentes, incentivando um olhar mais complexo sobre as práticas festivas e de lazer, 6) Divulgar entre os discentes estudos científicos produzidos no âmbito dos Estudos do Lazer no Brasil, apresentando grupos, programas de pós-graduação, e autores e autoras importantes para a área. 7) Adquirir habilidades e competências em educação à distância, que permita aperfeiçoar futuras ações no mesmo formato. 

 

 


Programação

A história da classe trabalhadora no Brasil não pode ser contada somente a partir de seus protestos, levantes, panfletos, jornais, partidos, sindicatos e greves. É preciso lembrar que, historicamente, grande parte da população brasileira foi sistematicamente alijada das grandes decisões sobre os rumos da coletividade, encontrando pouco espaço para a sua participação na política oficial. A inserção subordinada e dependente da economia nacional na divisão internacional do trabalho, exige a manutenção por aqui de um padrão de acumulação fundamentado na superexploração da força de trabalho e pilhagens sucessivas, só possível combinado com um poder repressivo presente e forte, que reafirme constantemente iniquidades políticas, sociais e econômicas, e que combata violentamente qualquer projeto de plena cidadania para as massas (Osório, 2014, Sobrinho, 2017). Após séculos de escravidão, e nunca é demais recordar que o Brasil foi o último país no mundo a aboli-la formalmente, contamos pouco mais de 130 anos de uma república marcada por golpes, estados de sítio, ditaduras, autoritarismo e exclusões. Essa experiência comum, de sistemática violência, exclusão e desumanização, produziria entre as classes subalternas por aqui ideias, valores e práticas políticas muitas vezes diferentes daquelas encontradas nos países centrais do capitalismo mundial.

Ao procurar por aqui, e não encontrar, o mesmo padrão de organização e luta de países do capitalismo central, muitos analistas acabam por ignorar a existência de outras formas de mobilização e participação popular, não diretamente ligadas ao mundo do trabalho e à política institucional. Desta forma, negam agência política aos trabalhadores brasileiros, contribuindo (conscientemente, ou não) para uma representação destes como imaturos, alienados, submissos e passivos. Esse olhar eurocêntrico, que só parece enxergar o proletariado no trabalhador homem, branco, de ascendência europeia, industrial e urbano (o “italiano radical”), tem ainda consequências especialmente deletérias ao reconhecimento do legado de organização e luta dos trabalhadores negros, pobres e periféricos, que muitas vezes estavam à margem do mercado formal de trabalho e dos canais oficiais da política institucional (Nascimento, 2016).

Luiz Antônio Simas (2016 e 2020) aponta que o contraponto das injustiças e violências que formaram a sociedade brasileira é o surgimento de uma “cultura da fresta”, onde explorados, oprimidos e excluídos reconstruíram suas vidas, suas identidades, ora resistindo, ora se adaptando, ora se esquivando, ora negociando com as normas e padrões que lhe eram impostas. Um exemplo disso, são as sociedades recreativas e dançantes, que se multiplicaram no Rio de Janeiro no alvorecer do século XX e que são analisadas por Leonardo Affonso de Miranda Pereira (2013 e 2017), Nei Jorge Santos Júnior (2020) e Mariana Costa (2012 e 2023). Para estes autores, longe de serem espaços somente de distração e perdição, esses clubes serviam como um canal de auto-organização popular, importantes pontos de apoio para a construção de redes de solidariedade e pertencimento entre as classes subalternizadas e uma forma possível de representação desses grupos na esfera pública. 

Essas organizações populares, é importante dizer, não estavam isoladas, ou alheias a outras lutas. Colin Barker (2014) aponta o equívoco que é analisarmos as formas de organização e luta existentes na sociedade em separado, como se houvesse um “movimento sindical” completamente apartado do “movimento negro”, do “movimento das mulheres”, ou do “movimento LGBT”. Esse raciocínio “fatiado” só seria capaz de produzir diagnósticos parciais e incompletos. Seguindo a tradição marxista, que compreende a realidade social como uma totalidade, o autor defende que é preciso pensar sempre “o movimento como um todo”, considerando que há entre as diferentes formas de organização e expressão uma “ação recíproca”, de constantes trocas, aprendizados e “apropriações criativas” (ainda que isso não signifique homogeneidade entre elas). O sucesso em uma frente, assim, pode impulsionar o avanço da luta em outros campos. Da mesma forma, uma grande derrota de um campo tem desdobramentos sobre os demais, gerando recuo e descrédito nos instrumentos de luta. Isso favorece, ainda segundo este autor, a um padrão de desenvolvimento por ondas, com ciclos de ascensão e retração semelhantes, embora não necessariamente simultâneos.

Com tudo isso, acreditamos ser possível pensar as festas e o associativismo recreativo no Brasil como parte de uma dinâmica política e social mais ampla. Principalmente se pensarmos a política a partir de um conceito ampliado, que não se restringe aos fóruns institucionais, mas diz respeito ao modo como os sujeitos buscam marcar sua presença no espaço público, disputando os rumos da coletividade e procurando garantir espaço e reconhecimento para suas práticas e formas de vida. 

Não por acaso, nas últimas décadas, o campo dos Estudos do Lazer passou por uma considerável transformação no Brasil. Antes visto apenas como um campo de atuação profissional, que dispensava maiores reflexões teóricas, o lazer passou a ser pensado como um fenômeno social complexo e multifacetado, que interage de forma dinâmica com elementos importantes das sociedades contemporâneas, entre os quais se pode destacar o trabalho, a família, a educação, a economia e a política. Campo com forte vocação interdisciplinar, os Estudos do Lazer têm sido tematizados por periódicos científicos (como a Revista Licere e a Revista Brasileira de Estudos do Lazer), Programas de Pós-Graduação (como o Programa Interdisciplinar em Estudos do Lazer, da Universidade Federal de Minas Gerais), além de livros, dossiês e artigos produzidos por pesquisadores das mais diferentes formações, e congressos científicos cada vez mais frequentes, o que atesta o crescente interesse sobre o tema. Todo esse acúmulo tem proporcionado uma nova forma de olhar para a sociedade brasileira, capaz de enriquecer as análises históricas e sociológicas mais tradicionais (ainda muito centradas nas dinâmicas do mundo do trabalho, ou nas grandes decisões políticas e econômicas). 

A relevância do presente curso está, primeiro, em divulgar em nossa comunidade acadêmica parte deste acúmulo dos Estudos do Lazer no Brasil, promovendo novos olhares sobre nossa sociedade, e novas possibilidades de pesquisas e intervenções entre nossos estudantes. Essa ação atende às diretrizes institucionais para a extensão quando busca promover um novo olhar entre os discentes sobre festas e organizações recreativas locais, compreendendo-as como produtoras de cultura e espaços legítimos de mobilização popular, passíveis de serem estudadas e vivenciadas. Com isso, buscamos impactar também na formação política de nossos estudantes, que poderão impactar (como formuladores diretos, ou através de pressão cidadã) na ação governamental, valorizando propostas de políticas públicas que reconheçam a legitimidade e importância dessas organizações, e que busquem ouvir seus interesses. O impacto social da ação compreende ainda o fato de que a valorização dessas organizações e eventos pode ainda gerar benefícios econômicos, impactando positivamente nas oportunidades de trabalho e renda tanto dos sujeitos que as protagonizam, quanto de futuros profissionais de educação física, 

Acreditamos que a aproximação dos estudantes do Centro Acadêmico de Vitória desse campo de estudo pode ainda abrir-lhes novas possibilidades de prosseguir seus estudos na pós-graduação, já diversos programas possuem linhas de pesquisa relacionadas ao tema. O contato com uma bibliografia atualizada os capacitará para concorrer com melhores chances em seleções nesse nível. 

 

Pensando a indissociabilidade entre Ensino-Pesquisa-Extensão, a promoção, entre os estudantes, de um olhar mais complexo sobre as práticas festivas e de lazer também terá impactos sobre a produção científica e o ensino nos cursos de educação física do Centro Acadêmico de Vitória, que poderão mobilizar esse conhecimento para qualificar sua intervenção pedagógica e sua reflexão teórica. Por fim, o curso pode contribuir para aproximar organizações recreativas (como torcidas organizadas, blocos carnavalescos, grupos de dança popular) do CAV, tornando possível futuras parcerias, ações conjuntas e pesquisas.


Públicos Alvo

Interno:

Estudantes de Graduação em Educação Física, Dança, Turismo, Ciências Sociais, História ou de Pós-Graduação em qualquer área


Externo:

Estudantes de graduação e pós-graduação de outras instituições de ensino



Membros da Equipe

  RAFAEL MACHADO SALDANHA
Categoria: EXTERNO
Função : MEMBRO DA EQUIPE EXECUTORA
  VERONICA TOLEDO SALDANHA
Categoria: EXTERNO
Função : COORDENADOR(A) ADJUNTO(A)
  ARTHUR HENRIQUE RAMOS ANTAS
Categoria: DISCENTE
Função : MEMBRO DA EQUIPE EXECUTORA

  RENATO MACHADO SALDANHA
Categoria: DOCENTE
Função : COORDENADOR(A)


Lista de Fotos

Não há fotos cadastradas para esta ação



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