Em ocasião da comemoração dos 50 anos da obra “A Revolução Burguesa no Brasil”, de Florestan Fernandes, o Departamento de Serviço Social (graduação e pós-graduação) da Universidade Federal de Pernambuco, juntamente com a Universidade de Pernambuco, o Movimento de Trabalhadores/as Rurais Sem Terra e o Projeto “O artesanato intelectual de Florestan Fernandes: uma perspectiva latino-americana sobre o desenvolvimento” (Edital Universal CNPq 2021), realiza uma jornada, no mês em que também se comemora o dia da/o assistente social, para debater o legado de Florestan Fernandes, sua influência no Serviço Social brasileiro e a atualidade de suas ideias para avançar na luta democrática por um Brasil mais justo, livre e igualitário. O evento ocorrerá no dia 07 de maio de 2025 e contabilizará o total de 8 horas. As demais atividades relativas à realização do referido evento se destinam à sua organização, planejamento, avaliação e sistematização de relatório final, contabilizando 64 horas. Serão, portanto, um total de 72 horas de atividades de extensão a serem desenvolvidas por parte da equipe executora para viabilização do referido evento. A atividade pretende contribuir para ampla publicização do pensamento de Florestan Fernandes, fortalecendo articulações e atividades em comum entre os diversos cursos das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, bem como entre Universidade e Movimentos Sociais.
No ano de 1975, Florestan Fernandes (1920-1995) publica A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica, considerada pelos seus intérpretes e estudiosos do pensamento social brasileiro o seu livro mais importante, alçando-se desde então à estatura de um clássico inconteste sobre nossa formação nacional. No entanto, o livro não se limita às fronteiras brasileiras, pois seu intuito seria explicar as dimensões continentais, latino-americanas, do capitalismo dependente como uma particularização das situações de classe burguesas, internas e externas, no contexto da expansão imperialista das nações centrais e dominação da superpotência capitalista em escala mundial. Já antes, em 1964, em A integração do negro na sociedade de classes, a temática da revolução burguesa surge no contexto de sua investigação sobre a emergência da categoria Povo no seio da formação histórico-social brasileira. O modo colonialista com que as elites das classes dominantes procuravam manter o “negro no seu lugar” constituía – e constitui ainda hoje – um amálgama com relações de dominação e exploração especificamente capitalistas.
Nesse sentido, Florestan Fernandes foi um dos primeiros intérpretes do Brasil a chamar atenção para o caráter inconcluso do nosso processo de descolonização. Escrito no contexto da ditadura empresarial-militar instaurada em 1964, o livro A revolução burguesa no Brasil desvenda as raízes autocráticas do poder burguês, nos âmbitos da sociedade civil e do aparelho estatal. A democracia, assim, à maneira oligárquica, só funcionaria restritamente para as elites das classes dominantes e seus funcionários subalternos das classes médias, cultivando-se o mandonismo, o patrimonialismo e a dominação das famílias gradas como estilo de vida.
A categoria autocracia burguesa desvenda, nesses termos, um componente estrutural e histórico presente no conjunto do tecido social brasileiro, revelando a atualidade de A revolução burguesa no Brasil para o debate dos dilemas da democracia em formações capitalistas de origem colonial, periféricas, dependentes e sufocadas pelos dinamismos do capital financeiro internacional.
Mesmo que não seja de nosso conhecimento a existência de uma literatura específica, ou mesmo de uma pesquisa de maior fôlego, que trate sobre a influência do pensamento de Florestan Fernandes no Serviço Social brasileiro, partimos do pressuposto de que tal aproximação tem um importante marco histórico: a renovação crítica do Serviço Social brasileiro na luta contra o conservadorismo.
As páginas iniciais do livro Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil, de Safira Bezerra Ammann (1980), prefaciado por Florestan Fernandes, também sinalizam os caminhos desse diálogo. Além disso, duas das mais importantes e imprescindíveis referências, já clássicas no Serviço Social Crítico da América Latina, também apresentam profunda relação com o legado deixado por Florestan. Referimo-nos à Marilda Vilela Iamamoto e José Paulo Netto. O segundo traz na sua própria trajetória político-acadêmica a presença irremediável [frente à natureza de seu objeto de pesquisa] da referência marxiana e marxista, temperada pelas ideias de Florestan Fernandes e do orientador de sua tese, Octavio Ianni. Daí surge, em 1990, a publicação intitulada Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64, valorosa contribuição para os fundamentos da profissão, sendo hoje um dos livros mais lidos nos cursos de graduação de Serviço Social no país, que, inclusive, representa um importante salto no esforço presente e explícito de entrelaçar os fundamentos da profissão aos fundamentos da vida social, particularizados através dos elementos constitutivos da formação social brasileira.
Na década seguinte, outra publicação passa a se destacar como uma importante contribuição e referência na formação de assistentes sociais, mais precisamente, no debate sobre neoliberalismo, Estado brasileiro e políticas sociais. Trata-se do livro Brasil em contra-reforma: desestruturação do Estado e perda de direitos, de Elaine Rossetti Behring (2003) que, ao priorizar o diálogo com a formação social brasileira a partir, por exemplo, da concepção de heteronomia contida no pensamento de Florestan Fernandes, dentre outros/as autores/as, reforça a atualidade desse legado que nos deixou contribuições imprescindíveis para pensar a formação do capitalismo brasileiro, ontem e hoje. Desse modo, é possível identificar alguns pontos de encontro entre o processo de Renovação Crítica do Serviço Social brasileiro e o pensamento social brasileiro, com destaque para a obra A revolução burguesa no Brasil.
Contudo, algumas questões ainda persistem: Qual a relação entre a renovação crítica do Serviço Social, ainda em curso, e o pensamento de Florestan Fernandes como um todo? Como se deu a incorporação dos conteúdos de suas obras e do seu pensamento vivo na formação de assistentes sociais no Brasil e quais os desafios ainda postos nesse processo?
A renovação crítica do Serviço Social construiu-se como parte do processo político-organizativo da classe trabalhadora na luta contra o conservadorismo na América Latina. Em outras palavras, a aproximação com o pensamento de Florestan Fernandes fez sentido na luta de classes e na necessidade de melhor conhecer as formas de dominação burguesas assumidas por aqui. Sobre isso, vale destacar que, não por coincidência, muitas das principais referências intelectuais nos estudos sobre sua obra estavam organicamente vinculadas à política. Conectadas, portanto, aos problemas de um tempo histórico marcado pela consolidação do capitalismo monopolista, bem como às necessidades sociais e as diversas formas de enfrentamento pelas classes sociais, em especial, através do Estado. Isto ancoradas em uma questão cuja centralidade estava nos dilemas relativos aos caminhos descaminhos da revolução brasileira. Por isso, temas como o caráter da revolução burguesa, a questão da transição, a relação entre modernização e atraso e o padrão de dominação burguesa no Brasil tornaram-se articuladores dos conteúdos e das análises características de uma imagem marxista do Brasil. Certamente os estudos sobre a fascistização impregnada socialmente nas estruturas de poder adquirem hoje enorme atualidade.
A questão que gostaríamos de chamar atenção é que, mesmo diante dessas evidências, o caminho ainda parece muito longo frente às necessidades postas não apenas ao conjunto de assistentes sociais, mas a classe trabalhadora como um todo. Necessidades estas crescentes no tempo presente onde as raízes do Brasil parecem ter um novo e profundo destaque. O que reforça a necessidade de impulsionar estudos históricos, dentro e fora da Universidade, sobre a formação sócio-histórica do Brasil e da América Latina. Nisso Florestan Fernandes e seu pensamento cumprem papel importante junto ao conjunto de esforços empenhados por parte das organizações de trabalhadoras/es, a exemplo do MST, para tornar esse pensamento cada vez mais vivo entre nós.
Por isso, nos 50 anos de publicação da obra clássica A revolução burguesa no Brasil e a 30 anos do falecimento desse importante pensador e educador brasileiro, o Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco, da Universidade de Pernambuco, o Movimento de Trabalhadores/as Rurais Sem Terra, o Projeto “O artesanato intelectual de Florestan Fernandes: uma perspectiva latino-americana sobre o desenvolvimento” (Edital Universal CNPq 2021) realizam uma jornada, no mês em que se comemora o dia da/o assistente social, para debater o legado de Florestan Fernandes, sua influência no Serviço Social brasileiro e a atualidade de suas ideias para avançar na luta democrática por um Brasil mais justo, livre e igualitário.
Estudantes e docentes de graduação e pós-graduação do curso de Serviço Social e áreas afins
Profissionais e pesquisadores do Serviço Social e áreas afins. Movimentos sociais e organizações populares interessadas.
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