O ser como dynamis no Sofista de Platão: suas relações e paradoxos
Ser; dynamis; movimento; repouso; Sofista
Nos diálogos platônicos, estão permanentemente inseridas as temáticas da
ontologia e da epistemologia e é a partir delas que o filósofo se debruçará em torno do
ser (tò ón) e do saber como eixos do seu corpus literário. No Sofista, Platão visa
apresentar uma revisão crítica de sua Teoria das Formas, herdada da tradição grega,
sobretudo de Parmênides, refletindo, com isso, autocriticamente sobre suas obras
predecessoras. Essa reelaboração da concepção de ser põe em xeque de forma
fundamental a noção de ser como uma unidade e imutabilidade proposta por
Parmênides, determinando o ser como dynamis ou como um princípio que possui
caráter de potencialidade. Dessa forma, o problema que se propõe é o seguinte: como é
possível uma condição ontológica composta por Ideias gerais ou “grandes gêneros”, que
são contrários e distintos uns dos outros, assentados numa estrutura de solidez
conceitual, constituir-se como princípio fundante da realidade? Em vista disso, com
base no plano argumentativo do diálogo, defendemos que a solução desse problema é
indicada a partir da identificação de três Ideias gerais, que são “Ser”, “Repouso” e
“Movimento”. A Ideia do “Ser” possui relações de participação com o “Movimento” e o
“Repouso”, na medida em que é partir dessa relação que ambos, “Movimento” e
“Repouso”, são ou existem, o que resultará em outras duas Ideias gerais, a saber: a Ideia
do “Mesmo” e a Ideia do “Outro”. De acordo com a argumentação proposta pelo
Sofista, o “Outro”, entendido como o não-ser, não significa algo contrário ao que existe,
mas sim a “diferença”, assumindo um caráter de alteridade, o que torna o discurso e o
conhecimento inteligíveis. O contexto do Sofista condensa a súmula dessas objeções
numa estrutura aporética, na qual introduz as soluções para os problemas apresentados
pelo filósofo. No entanto, a concepção do ser como dynamis no Sofista é concebida
numa estrutura da realidade constituída por gêneros contrários, implicando, assim, numa
relação paradoxal.