SOBRE O PROBLEMA DO DESACORDO ENTRE CERTEZAS FULCRAIS: Pessimismo x otimismo
Hinge Epistemology; Certezas fulcrais; Método socrático; Inferencialismo; Expressivismo.
Wittgenstein aborda o conceito de certezas fulcrais em Sobre a Certeza (1969). Estas são proposições das quais, raramente falamos, mas que são fundamentos para nosso sistema de crenças. Wittgenstein nos apresenta um exemplo de desacordo entre certezas fulcrais no §92. Nele, G.E Moore encontra-se com um rei que acredita que a terra nasceu com ele. Fogelin em The Logic of Deep Disagreements (1985,2005) defende que este é um desacordo profundo, um tipo peculiar de desacordo que não é resolvido por meio da razão. Esta posição de Fogelin é denominada pessimista, e outros autores como Pereira (2006), Silva (2016) e Jourdan (2021) compartilham dessa interpretação, mas em contextos diferentes. Por outro lado, os otimistas, como Godden e Brenner (2010), Martin (2019) e Coliva e Palmira (2020), defendem que desacordos profundos podem ser resolvidos por via racional. Entretanto, a própria noção de desacordos profundos, caracterizada por Fogelin, é problemática, uma vez que, se os discordantes não compartilham de um solo comum, um desacordo não seria possível, isso porque, para que seja possível um desacordo em algum ponto, é necessário que os discordantes encontrem algum tipo de convergência de acordo mínimo ou pano de fundo semelhante de crenças. Dessa forma, gostaríamos de oferecer uma resposta alternativa a visão pessimista de Fogelin. Contudo, uma das principais controvérsias a respeito da origem dos desacordos profundos, é referente a natureza das certezas fulcrais. E a possibilidade de elas serem revisadas entra em questão. Tendo este problema em vista, analisaremos a seguinte pergunta: Se as certezas fulcrais forem revisáveis, então, como seriam? Argumentamos em favor de uma leitura normativa ou neopragmática das certezas fulcrais e acreditamos que uma resposta alternativa à Fogelin para o dilema do desacordo entre certezas fulcrais seja não só possível, mas o mais adequado em um contexto social e público de introdução e consolidação de certezas fulcras. Para tanto, utilizaremos o caráter expressivista do método socrático (1988, 1994, 2013), proposto pelo neopragmático de Robert Brandom. O método é um mecanismo racional que nos dispõe de ferramentas inferencialistas e expressivistas. Por exemplo, o vocabulário lógico, no método, nos possibilita dar e receber razões. E gera assim, afirmações explícitas em forma de regras acerca dos compromissos, tornando possível, a partir delas, corrigir relações inferenciais discordantes. Defenderemos que o método socrático a la Brandom, além de ajudar a resolver alguns impasses do Sobre a Certeza, seja uma resposta possível para o problema do desacordo entre certezas fulcrais.