TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO:
Uma análise de estudos sobre o fenômeno
Trabalho escravo contemporâneo. Precarização. Revisão sistemática da
literatura. Adoecimento.
Diante da dinâmica de reestruturação produtiva universal, o capitalismo altera suas estratégias
reproduzindo-as no ambiente de trabalho, como estrutura de dominação e de intensificação da
exploração do trabalhador, como novos padrões de gestão e organização do trabalho que
configuram ferramentas de manutenção do poder para a manutenção ou o aumento dos lucros.
Contudo, sua face mais perversa é o trabalho escravo contemporâneo. Assim, buscando
identificar a contribuição científica quanto ao tema, estabeleceu-se a seguinte questão
problematizadora: o que a produção científica revela acerca do fenômeno investigado,
notadamente quanto aos seus elementos essenciais, características e ressonância social? Para
obtenção da resposta, estabeleceram-se como objetivos específicos: mapear a relação entre a
temática proposta e produções científicas selecionadas; verificar a relação entre aportes
teóricos e estratégias presentes no ambiente de trabalho, como estrutura de dominação e de
exploração do trabalhador; categorizar os estudos empíricos primários investigados; além de
organizar os estudos selecionados analisando possíveis contribuições e lacunas.
Metodologicamente, a pesquisa se caracteriza como qualitativa, de caráter crítico-
exploratório, utilizando-se do método de Revisão Sistemática da Literatura (RSL), por meio
da análise de conteúdo. Não foi localizada RSL anterior com a mesma pertinência temática,
após buscas nas bases de dados Scopus e Web of Science (WOS). Em continuidade, foram
realizadas pesquisas nas plataformas utilizando-se critérios para busca e seleção de artigos
primários, com acesso livre, escritos nos idiomas português, inglês, francês ou espanhol, nas
áreas de ciências sociais, economia, multidisciplinares e decisões científicas, publicados no
período de 2015 a 2019. Nesse levantamento, foram selecionados 20 estudos, sendo dez na
base Scopus e os outros dez na base WOS. Em seguida, foi desenvolvida uma síntese dos
estudos e posteriormente empreendeu-se uma análise crítica das categorias em comum. A
análise identificou uma unanimidade de pesquisas qualitativas entre aquelas com método
definido. Contudo, cerca de 30% carecem de maior rigor metodológico em virtude da
ausência de sua especificação. Não foram identificados estudos com abordagem de novos
setores de exploração. Apenas 10% dos artigos analisados esboçaram alguma análise do perfil
dos trabalhadores vitimados, indicando um ponto desfavorável a análises mais aprofundadas.
Os resultados indicam que as entidades não estatais são primordiais à efetiva solução do
trabalho escravo e que as ações de repressão são insuficientes e não comungam paralelamente
com ações de prevenção e repressão, quase inexistentes. Os estudos não identificaram
divergências entre o conceito nacional e o internacional do trabalho escravo e revelaram que a
erradicação dessa problemática carece de coalisão global para tal enfrentamento, não só na
criminalização como também na cooperação mútua para redução das desigualdades sociais e
da miséria, expondo, assim, um processo de dominação e de coisificação do ser humano.
Apesar dos dados gerados, o estudo demonstra uma carência de pesquisas contemplando o
contexto do aliciamento. Dessa forma, sugere-se que pesquisas futuras complementares sejam
realizadas, permitindo estabelecer comparativos que auxiliem no combate à escravidão
moderna.